O PÊNDULO DE FOUCAULT de Umberto Eco (Difel)
“Quando os homens não acreditam mais em Deus, isso não se deve ao facto de eles não acreditarem em mais nada, e sim ao facto de eles acreditarem em tudo” G.K. CHESTERTON
De volta a um dos meus autores de culto, Umberto Eco e uma obra que marcou um sentido e uma tendência na temática que se mantém até hoje como um filão comercialmente bastante rentável. Há, hoje em dia uma infindável galeria de autores, mais ou menos conhecidos, que se dedicam a entrecruzar referencias do ocultismo, do esoterismo, do hermetismo, a misturar-lhe excertos de textos sagrados, a revelar ou inventar todo o tipo de seitas e respectivas crendices, com propósitos de salvaguardar ou descobrir terriveis segredos de cuja revelação ou ocultação depende o futuro da Humanidade. No final dos anos oitenta, 1988, mais precisamente, Umberto Eco, resolve por entender anormal todo o panorama que rodeava estes supostos “conhecimentos iluminados”, criar um romance fabuloso, que mais não é do que um enorme romance anti-conspiratório. O enredo, que passa pela invenção por parte dos protagonistas da história, de um suposto “Plano”, que envolve raízes históricas que remontam à mais que famosa extinção da Ordem dos Templários no inicio do Séc. XIV, por ordem do Papa Clemente, facto que até hoje dá roda livre a todos aqueles que acreditam e defendem que a citada Ordem não se extinguiu, contribuindo para as mais diversas teorias conspirativas. Da mão de mestre de Eco, sai uma história em que o elemento mágico se mistura com o real a um ponto tal que diversas seitas e ritos mais ou menos iniciáticos, acreditando que o “Plano” é verdadeiro e não mero fruto da criatividade dos protagonistas do enredo, se tornam num perigo real para os três redatores editoriais italianos que inventam esta teoria da conspiração. É muito fácil tomar este livro pela capa e lê-lo com o prazer que o autor nos dá com a sua profunda erudição e brilhante montagem de cenários e personagens, mas é o próprio Eco que nos dá a medida do que pretende quando, já em anos mais recentes, e a propósito do sucesso editorial de “O Codigo Da Vinci”, se bem que com relativa pouca modéstia diz ter “inventado” Dan Brown. Não o costumo fazer mas cito aqui, (para melhor ilustrar) Umberto Eco: “Eu inventei Dan Brown. Ele é um dos personagens grotescos do meu romance que levam a sério um monte de material estúpido sobre ocultismo...... Eu quis fazer uma representação grotesca daquilo que eu via em volta de mim, de uma tendência da qual eu previa o crescimento. Era fácil fazer uma profecia como esta.” Temos assim, que, para lá da própria obra há uma manifesta intenção de desmitificar, de relativizar, e até quiçá, ridicularizar esses universos, hoje tão em voga. De todas as maneiras, e porque não costumo fazer estas meta interpretações literárias, apelo a uma leitura do livro sem ter em conta tudo que acima disse, assim ao jeito de “bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”. É que funciona na perfeição como paradigma do romance conspiratório que tenta combater. É paradoxal mas é verdade. E já vai longa esta sugestão, que pretendia tão sómente algo de bem mais prosaico, dizer que assim como Tolkien inventou milhares de autores de mitologias que se seguiram à da “Terra Média”, também Umberto Eco foi claramente percursor e desbravador de um território que é hoje chão que dá uvas a muita gente. Um livro obrigatório. Ou deveria sê-lo, digo eu! Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
A Conspiração Contra a América de Philip Roth (Dom Quixote)
A Casa Verde de Mario Vargas Llosa (Dom Quixote)
Suite Francesa de Irene Nemirovsky (Dom Quixote)
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