LÚCIO FETEIRA (A História Desconhecida – Das Origens à Glória Vol. I) de Miguel Carvalho (Quidnovi)
"Nenhum homem é suficientemente rico
para comprar o seu passado” Oscar Wilde
Este livro é seguramente um caso muito especial. Para início
de conversa e fornecendo a respectiva declaração de interesses, fica desde já
registado que o Miguel Carvalho é um querido amigo meu em territórios que
extravasam em muito o âmbito literário. É difícil, como sabem todos os que o
conhecem, separar o Miguel daquilo que escreve. Sem puxar para aqui outros
galões que não os da amizade (e o Miguel tem-nos como poucos) deixem-me dizer
aquilo que já de outras obras dele me atinge naquilo que ele escreve. As
palavras para descrever a obra de um amigo são de parto difícil, porque se há a
tentação estúpida e inconsequente de sermos um juiz mais imparcial pela
proximidade, há também um conhecimento mais próximo do autor que pode afectar
pela confusão entre o que conhecemos do autor e do que ele reflecte na obra.
Tudo isto é com o Miguel Carvalho um exercício de grande inutilidade, e
felizmente pelas mais simples e melhores razões. A obra fala por si. É irrelevante
que quem a escreve seja, de facto, tal como o produto do seu trabalho alguém
que se traduz na vida, como na escrita, pela integridade, pelo humanismo e
sobretudo pela verdade. A obra tem sido amplamente divulgada, novos
desenvolvimentos num caso de homicídio extraordinariamente mediatizado entre
Portugal e o Brasil despertaram um interesse pela vida e obra de Lúcio Tomé
Feteira, um homem invulgar que ascendeu a uma posição de riqueza e poder ainda
hoje difíceis de quantificar. Foi a hercúlea tarefa a que o Miguel se dedicou,
com um trabalho de pesquisa que elenca factos e episódios recolhidos em
inúmeras fontes e contactos que depois se traduzem numa história que vai para
além do mero registo biográfico/factual. É esse o grande talento do Miguel, que
quem o tem acompanhado em outras publicações anteriores e sobretudo no trabalho
que faz na Revista Visão, reconhece sem esforço. O Miguel (d)escreve sem nunca
perder de vista o essencial, e o essencial somos nós, as pessoas, a gente que
passa pela escrita do Miguel tem sempre uma vida diferente, insuflada por uma
forma de escrever e contar que nos dá um quadro profundamente humano, que
procura por cima dos factos chegar ao que os transforma. Não sei se neste caso,
(como em grande parte dos registos biográficos) se consegue chegar
verdadeiramente ao âmago, à essência do retratado, mas se neste não se chega
por via do que nos conta o Miguel, muito dificilmente se chegará por melhor
caminho. Revelo aqui, porque me foi permitido fazê-lo, que este livro é, antes
e mais do que o produto do esforço, dedicação e talento de um amigo, um momento
raro e de grande significado para mim, que foi o facto de o Miguel me ter
enviado as provas do livro para leitura antes da edição e de surpreendentemente
me ter incluído nos agradecimentos finais. O agradecimento é obviamente meu,
muito pela confiança, muito pela obra, mas sobretudo e absolutamente pela Amizade.
Se há livro que posso sugerir sem qualquer espécie de hesitação é este. Não
hesitem também e mergulhem sem medo na história de um homem invulgar,
invulgarmente bem retratado pelo Miguel Carvalho, pelo menos até onde este
primeiro volume nos deixa! Aguardemos pois o próximo e…. Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
O Escrivão Público de Tahar Ben Jelloun (Cavalo de Ferro)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo
(Quetzal)
O Homem
Que Gostava de Cães de Leonardo Padura (Porto Editora)
Comentários