A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)
“Lá onde a identidade
individual se apaga não há punição nem recompensa” Ernst Junger
Este livro foi o vencedor do Man Booker Prize de 2010. Com respeito a
prémios, fico muitas vezes a pensar na infinita e talvez relativa injustiça de
se proceder a uma escolha entre muitas obras que todos os anos chegam aos
leitores. Tem no entanto a vantagem, os prémios, de conceder ao respectivo
titular uma exposição alargada e de dar à obra uma dimensão que de outra forma
demoraria talvez muito mais, ou mesmo que nunca chegaria a obter. Quanto a
saber se há ou não outros livros melhores, não tenho dúvidas que sim, até porque
um prémio pressupõe uma escolha, que e sempre mais ou menos guiada por um
conjunto de opiniões pessoais por parte de quem selecciona e atribui. Não
estando este processo particularmente em causa, começo por dizer que este é um
livro de fácil inclusão numa qualquer “shortlist”. Tem argumentos válidos para
isso. A começar no factor que realmente importa, a qualidade da escrita. Howard
Jacobson conta-nos com grande mestria uma história muito interessante. O tema,
que mais do que a mera percepção do judaísmo por um não judeu que crê, ou quer,
tornar-se num, é abordado, com recurso a três personagens nucleares muito bem
construídas. Julian Treslove, o protagonista, Libor Sevcik e Sam Finkler, seus
amigos, transformam uma questão de identidade, individual mas também colectiva,
na grande “questão” deste livro. O ser ou não judeu, o sionismo, a percepção
que os próprios (judeus) tem de si próprios enquanto indivíduos e enquanto povo
é fornecida por vários ângulos e enquadramentos, com recurso muitas vezes à
ironia, ao sarcasmo e a um humor vagamente britânico que nunca sai de cena. É
sobretudo uma obra sobre identidade, individual, de grupo, religiosa, com todos
os excessos e defeitos que a mesma pode comportar. Há quem diga que este autor
é uma espécie de Philip Roth britânico. Parece-me que a temática centrada na
forma de vida judaica é a única coisa que pode justificar a comparação. Gostei
muito da forma com Jacobson escreve e nos conta esta história. Um autor a
revisitar com toda a certeza.
Boa Semana e Boas Leituras!!!
Na Mesinha De Cabeceira:
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE de Thomas
Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
O JOGO DO MUNDO de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
DIÁRIO PARA ELIZA de Lawrence Sterne (Antígona)
O HERÓI DISCRETO de Mário Vargas Llosa (Quetzal)
UMA COISA SUPOSTAMENTE DIVERTIDA QUE NUNCA MAIS VOU FAZER de David Foster
Wallace (Quetzal)
HISTORIAS DE LOUCURA NORMAL de Charles Bukowski (Alfaguara)
ESTRADA PARA LOS ANGELES de John Fante (ALFAGUARA)
AS PRIMEIRAS COISAS de Bruno Vieira Amaral (Quetzal)
Comentários