A CASA NEGRA de Peter May (Marcador)
“O assassinato é sempre um erro. Nunca
devemos fazer nada de que se não possa conversar depois de jantar. “ Oscar Wilde
Entre escritas de ordem vária e
acontecimentos diversos (alguns deles a merecer um livro), a verdade é que a
minha compulsão pela leitura tem sofrido algo. Nestas alturas, por motivos que
parecerão óbvios a uns e estranhos a outros, quase sempre opto por escolher ler
algo de autores que não conheça previamente. Quase sempre também, volto a um
reduto que me é familiar e confortável, o policial. Este “A Casa Negra” de
Peter May é uma boa surpresa. Quem entrar na obra à espera de um típico policial,
vai ter alguma dificuldade em classificar imediatamente o registo desta
história. É sobretudo um romance de personagens. Com a coincidência
inteiramente pessoal de estar a trocar mensagens com um amigo que se encontrava
na Escócia nesses dia (o cenário do livro é a Ilha de Lewis na Escócia), pude
tomar contacto com um tipo de escrita de que gostei muito. Não há, como agora
parece ser tendência, crimes abundantes, o mais macabros e tenebrosos possíveis,
há uma morte, que parece replicar uma anterior ocorrida meses atras em Edimburgo
onde Fin Macleod, a personagem central vivia e tinha investigado. A descrição
das personagens, o seu crescimento ao longo da história e o perfeito casamento
com a vida sombria da ilha, desembocam num final muito bom. A descrição da vida
e da sua infância na ilha são um livro dentro do livro. Não é por acaso que em
algumas traduções este livro se chama “A Ilha dos Caçadores de Pássaros”. Os últimos
capítulos sim, são policial puro. Com suspense, e antecipação de um mal que se
sente sempre presente, Peter May constrói uma história da qual se retira muito
prazer em ler. Para quem gosta do género, aconselho sem reservas, até porque ao
que parece se preparam mais um par de histórias para completar uma trilogia.
Para quem, e há quem o faça, não goste de policiais por principio, posso sempre
dizer que se a história é de facto policial, a escrita é de um género
particular: o bom.
Boa Semana e Boas Leituras!!!
Na Mesinha De
Cabeceira:
GOODBYE COLUMBUS
de Philip Roth (D. Quixote)
VERDADE AO AMANHECER de Ernest Hemingway
ILHAS NA CORRENTE de Hemingway (Ed.
Livros do Brasil)
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de
Hernán Rivera Letelier (Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE de
Thomas Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge
(ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
O JOGO DO MUNDO de Julio Cortázar
(Cavalo de Ferro)
DIÁRIO PARA ELIZA de Lawrence Sterne
(Antígona)
A RAPOSA AZUL de Sjon (Cavalo de Ferro)
FUGAS de Alice Munro (Relógio D´Àgua)
DANUBIO de Claudio Magris (Quetzal)
OS ANEIS DE SATURNO de W.G.Sebald
(Quetzal)
TELEFÉRICO DA PENHA (IMAGINÁRIO E
REALIDADE) de Esser Jorge Silva (Edições Húmus)
LIBRA de Don DeLillo (Sextante Editora)
RELATÓRIO DO INTERIOR de Paul Auster
(ASA)
AMSTERDÃO de Ian McEwan (Gradiva)
ALFABETOS de Claudio Magris (Quetzal)
PARA ONDE VÃO OS GUARDA-CHUVAS de Afonso
Cruz (Alfaguara)
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