TEMPESTADE de William Boyd (Casa das Letras)

Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo NIETZSCHE

Já com um livro anterior, esta impressão me tinha assaltado. É um autor de começos lentos, que introduz as tramas dos seus livros com suavidade. Que nos vai tornando progressivamente mais nitidos os cenários e as personagens até que, a um dado momento, sem quase nos apercebermos, estamos a viajar no livro a toda a velocidade. Não acontece com muitos autores, nem com muitas histórias. Este livro “Tempestade”, é um romance quase policial, se é que o género existe, e digo quase porque, pra além das características normais, encerra um conceito algo invulgar no enredo. O personagem principal desaparece socialmente. Adam Kindred, um jovem invetigador no campo da meteorologia, é envolvido acidentalmente num assassinato e torna-se o principal suspeito dessa morte. A principal característica disitintiva deste livro é a forma com Adam desaparece, e lhe são progressivamente retirados, camada após camada, todos os vinculos com a sociedade. É nessa perda total de identidade, e nesse percurso que o romance ganha verdadeiramente interesse. É uma viagem pelo despojamento completo de tudo aquilo que nos é familiar e próximo. Coisas que damos como adquiridas e, que a Adam, são retiradas de forma violenta, atirando-o para uma posição na sociedade onde a invisibilidade tem mais do que uma forma. O resto da história é um thriller onde pontifica a maldade empresarial, na figura de uma empresa farmaceutica que se prepara para lançar um novo fármaco sem o ter devidamente testado. Não vai para nenhuma galeria de clássico, mas tem o seu quê de original. Não se dá o tempo por mal empregue nesta leitura, que cumpre bem o papel deste género de livros. Não sendo o tipico policial, configura também uma tendência de muitos autores contemporâneos que é de nos fazer sentir ao longo da leitura que estamos a ler um pré-guião cinematográfico. Há casos em que isso se nota mais do que neste “Tempestade” e também não será por aí que vem mal ao mundo. É também um bom guião que, a seu tempo dará origem ao filme que nele se adivinha. Não subscrevo por inteiro o entusiasmo vibrante dos criticos do Daily Mail, Daily Mirror, Daily Telegraph e do Guardian, que são citados na contracapa, mas também não é preciso tanto para que me atreva a aconselhar. De outras obras de William Boyd em futuras sugestões se falará tembém. Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

As Benevolentes de Jonathan Litell (D. QUIXOTE)

O Filho Eterno de Cristovão Tezza (Record)

Sargento Getúlio de João Ubaldo Ribeiro (Edições Nelson de Matos)

A Assombrosa viagem de Pompónio Flato de Eduardo Mendoza (Sextante Editora)

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