FERRUGEM AMERICANA de Philipp Meyer (Bertrand)
"Não adianta discutir com o inevitável.
O único argumento disponível contra o vento de leste é vestir o sobretudo” James
Lowell
Presente de aniversário de uns queridos amigos e
amplamente recomendado, este “Ferrugem Americana” não oxida minimamente o
leitor. É um grande romance, na melhor tradição americana. Sou insuspeitamente
um admirador de Hemingway, de Faulkner, de Steinbeck e de outros que o século
XX nos ofereceu como grandes pintores da paisagem americana. Este é um retrato
de uma América profunda, de um cenário de devastação pós-industrial (tem muito
daquilo que se ouve e lê nas musicas de Bruce Springsteen). É uma obra que
desce à vida do americano médio numa cidade atacada pelos fumos da globalização,
do desemprego colectivo, da desilusão em massa. De um presente que não oferece
saída. É um romance que nos pinta um certo fim do sonho americano. Os
escritores que mais aprecio são, na sua maioria, grandes construtores de
personagens. Philipp Meyer é exímio nessa tarefa, que é quase sempre o núcleo
daquilo que se pretende contar. Não gosto e sempre que posso tento sugerir a
leitura pelo impacto que me causa e não antecipando a respectiva história. Uma
coisa é descrever o que se passa no livro, o que de certa forma, pelo menos a
mim, me mata um pouco o interesse, e outra bem diferente é tentar passar o que
se sente ao ler determinada obra. Esta, a par de algumas, e, valha a verdade,
cada vez menos, impressionou-me. É bom saber que nas novas gerações de escritores,
(Philipp Meyer nasceu em 1974), há vozes destas. Com profundidade, com
introspecção e não meramente “escritores a metro” que fazem desaguar nas
livrarias páginas e páginas de escrita menor, tantas vezes incensadas apenas
pelos mecanismos de propulsão de vendas. É assim o mundo de hoje. Alguns
publicam tudo e a toda a hora, com muito pouca mensagem, com muito pouco para
dar ao leitor. Não confundir com esta história de Isaac e Poe (sobretudo estes)
que nos dá uma outra mensagem, à medida dos tempos que vivemos. São jovens,
desiludidos e com horizontes, um e outro à sua maneira, mas sem estrada para
caminhar. Há livros que reproduzem a vida tal como ela é, sem artifícios, sem
apelos a nada que não seja uma intensa e profunda verdade. Este é claramente um
deles. De um novo autor a prometer muitas e boas coisas no futuro. Não deixem
de ler, em geral, e este livro em particular. Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
O Escrivão Público de Tahar Ben Jelloun (Cavalo de Ferro)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo
(Quetzal)
O Homem
Que Gostava de Cães de Leonardo Padura (Porto Editora)
Comentários
Quanto à crítica gostei, mas prefiro as que se debruçam um pouco sobre a história. Ler que a pessoa gostou muito a mim pessoalmente não me diz nada nem é isso que me vai convencer a ler ou não até porque gosto é discutível.
O fundamental é mesmo ler e, no meu caso, ter prazer com isso.
Obrigado e volte sempre. :)