O HOMEM DESPEDAÇADO de Gustavo Melo Czekster (Dublinense – Brasil)
"No conto tudo precisa
ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve-se ver apenas a linha
flagrante e definidora que revela e fixa uma personalidade; dos sentimentos
apenas o que caiba num olhar, ou numa dessas palavras que escapa dos lábios e traz
todo o ser; da paisagem somente os longes, numa cor unida." Eça de Queirós
Antes da sugestão, a história. Este livro,
e antecipo já, este delicioso livro, fez o seu caminho atravessando o Atlântico
por mão da Lelena Terra Camargo, mentora do blogue “Bípede Falante” e grande
divulgadora de Arte e Literatura que venho acompanhando há já alguns anos, por
via do acesso ao referido blogue e também pelas redes sociais. Para ela vai
desde já o meu sincero e merecido agradecimento. Há poucas coisas tão valiosas
na vida como um bom livro, que estão nível de um bom Amigo, mas, infelizmente,
nem um nem outros se atravessam na nossa vida com a frequência que desejamos.
Este livro, ao qual tenho acesso por privilégio, já que não está publicado em
Portugal, é um livro de contos, e ao que me apercebo uma obra de estreia. Há
certamente vantagens e inconvenientes em não conhecermos os autores das obras
que nos surgem, a mais-valia mais evidente é o não termos quaisquer “parti pris”, nem preconceitos. É o caso.
Li-o sem mais referências que não fossem a da sugestão, entusiasmada diga-se,
da Lelena. E que belíssima surpresa me estava reservada meus caros, este é um
livro raro. O conto é, para mim uma das formas prediletas de escrita. Já por
aqui falei de autores aos quais o género não é alheio, Gabriel Garcia Marques,
Oscar Wilde, Dalton Trevisan, e o meu particularmente querido José Rentes de
Carvalho, para citar alguns dos nomes que fizeram que as minhas horas de
leitura de contos fossem de excelência. O conto é uma arte, muito alicerçada,
na minha opinião numa dupla onde entram com certeza o ritmo e a intensidade do
que se conta. Gustavo Melo Czekster, independentemente de tudo, entra neste
género pela porta grande. Os seus contos são acima de tudo intensos, com fundo
e conteúdo. Tratam a Vida e a Morte por tu, conseguem cozer uma sensibilidade
muito fina com momentos literários de grande violência. É um livro que merece a
pena ser lido, tem, como todos os muito bons livros de contos encerrado neles,
parábolas, alegorias e fábulas. Não falha num elemento tradicional do bom
contista que é o desfecho sempre surpreendente, e aqui com o acréscimo (opinião
minha) de o ser, quase sempre, deliciosamente amoral. Não gosto de antecipar
muito dos livros que por aqui vou sugerindo, uma razão é a do espaço que o
jornal me concede, a outra é porque o prazer da leitura está muito mais na
descoberta do que na concordância ou discordância com as minhas opiniões, que
são, para o caso, irrelevantes. No entanto, neste caso, pela cosmogonia
particular que cada um destes dois contos encerra, relevo um par de histórias:
“eu, tu, eles, os homens tridimensionais” e “divertissements sobre a dilatação
dos porcos”. O livro é também ele um circulo que se fecha sobre si mesmo, com
algumas recorrências de personagens e ambientes buscando um sentido mais amplo
que se tomarmos cada conto como uma peça isolada. Não, há aqui uma engrenagem
que funciona pela soma das partes também. À pergunta que fecha o primeiro e o
último dos contos, dou eu a minha resposta: a este livro rendo-me mesmo sem
luta, aliás com todo o prazer.
No momento em que escrevo esta crónica a
publicação está a cargo da Editora Dublinense de Porto Alegre – Brasil, deixo
aqui o contacto para quem estiver interessado na compra, ou o que seria bem
melhor na edição em Portugal: contato@dublinense.com.br.
Uma vez mais o meu sincero agradecimento à
Lelena pela gentileza da oferta e ao Gustavo Melo Czekster por autografar o meu
exemplar.
Boa “rentrée” e… Melhores
Leituras! J
Comentários
Beijossssss
Muito, muito obrigado.
Beijo