UMA VERDADE INCÓMODA de John le Carré (D Quixote)


“ A percepção é o pensamento do pensamento alheio” Fernando Pessoa

John le Carré dispensará apresentações. Mesmo para quem nunca dele tenha lido nenhuma obra. A passagem ao cinema de vários dos seus títulos contribuiu decisivamente para propagar o seu nome muito para além da literatura. Dos que já li, o clássico de espionagem “O Espião que Saiu do Frio” de 1963, “A Vingança de Smiley” de 1979, “O Alfaiate do Panamá” de 1996, “O Fiel Jardineiro” de 2001 e “Um Traidor dos Nossos” de 2010, tenho opiniões diversas. E se não gostei particularmente deste ultimo de 2010, tenho que reconhecer que este “Uma Verdade Incómoda” recém-publicado pela D. Quixote me fez inverter alguma pequena desilusão que tinha tido com o predecessor. Não só é um enredo actual como, e aí sim principalmente nos dá a visão desiludida e desencantada do panorama geo politico actual baseada em duas versões ficcionadas de si próprio. Gosto muito das personagens e da respectiva “bagagem” que Le Carré traça nos diversos livros que já li. Neste não elejo nenhuma em particular, mas é sobretudo o seu universo interior que aqui tem a carga mais positiva para a obra. Mais uma vez a intriga e a conspiração dão o mote a um livro que vai para além do mero entretenimento. John le Carré empresta cada vez mais carga política ao que escreve e desafia-nos a mergulhar uma outra vez num universo que tem vindo a tratar de forma muito particular. Sempre sem antecipar a trama, posso no entanto falar do efeito que provoca. É uma obra de desesperança, que não oferece saídas nem soluções. Apenas nos fornece o quadro onde nos cabe a nós enquanto leitores inscrevermos as nossas próprias convicções à luz de uma visão de um presente aparentemente sem futuro. Uma vez mais, e estou mesmo a concluir que cada vez menos é coincidência, é um autor com mais de oitenta anos, a juntar a uma pequena galeria de eleitos que tem feito as minhas ultimas e melhores sugestões aqui na “Estante”. Começado que está o Verão, e sabendo também da existência de leitores mais ou menos sazonais (ou estivais, se preferirem) parece-me uma boa companhia para acompanhar alguns momentos de ócio. Gostei.  
Boas Leituras e Boas Férias se for o caso!!!

Na Mesinha De Cabeceira:

MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE  de Thomas Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)


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