A IMPROVÁVEL VIAGEM DE HAROLD FRY de Rachel Joyce (Porto Editora)
"Não há homem
completo que não tenha viajado muito, que não tenha mudado vinte vezes de vida
e de maneira de pensar." Alphonse
de Lamartine
Tenho voltado a ler. Talvez não tanto
como desejo, mas tenho regressado lentamente a esse pequeno mundo, que sendo
partilhado, é também único e especial para cada um de nós. Como é hábito, de
entre os autores que venho desde sempre acompanhando e de livros que compro por
impulso, aparecem por vezes obras que por uma ou outra razão se nos impõe.
Este foi um deles. Talvez porque todos nós na vida também sejamos também
peregrinos, da estrada ou da mente, este livro teve um bom efeito em mim. Não
sei se é um livro que vá mudar a vida a alguém, a verdade é que esse é um
chavão muitas vezes repetido e raras vezes conseguido, mas sei que é uma
história que nos faz parar a pensar muitas vezes. E em muitos aspetos da vida.
A singular jornada de Harold Fry é simultaneamente um caminho de esperança e
uma viagem à falta de sentido da vida. A esperança, o sofrimento, a dor, a
perda, a alegria, o absurdo, a estranheza de alguma modernidade e a ética
particular de Harold, dão-nos um retrato vivido de um homem que a si próprio se enfrenta, bem como a todas as feras que o habitam, num
caminho que não escolheu, mas que decidiu tomar.
É uma leitura simultaneamente fácil e dura. É um livro muito bem escrito e bem construído.
Leva-nos pela mão a todos os sítios por onde passa a caminhada interior de Harold. E empresta-nos um sentido último à vida. À sua magnífica
aleatoriedade, à sua infinita crueldade e à sua incomparável beleza. É um livro
sobretudo sobre a reconstrução da alma, sobre os nossos próprios limites e
sobre as fronteiras da dor. Fala-nos das distâncias entre o que se ama, do que se
perde pelo caminho, e como na vida acontece, na imensa e espantosa capacidade
que temos de nos regenerarmos. É uma história triste na sua essência, mas é um
farol de esperança que nos convence no final que a vida nos concede sempre uma
segunda oportunidade. A improvável viagem de Harold Fry é também a nossa inelutável viagem. Talvez a nossa seja apenas diferente no trajeto e nas
personagens com quem nos vamos cruzando. Há algo a aprender neste livro, que é
também uma excelente leitura para este período, em que espero, alguns de vós estarão já em período de descanso.
"O que
interessa na vida não é prever os perigos das viagens; é tê-las feito." - , Agostinho da Silva
Boa Semana e
Boas Leituras!!!
Na Mesinha De
Cabeceira:
OS FACTOS de Philip Roth (D.Quixote)
A SOMBRA DA ROTA DA SEDA de Colin
Thubron (Bertrand)
O FRANCO ATIRADOR PACIENTE de Arturo
Perez Reverte (ASA)
AS LUZES DE SETEMBRO de Carlos Ruiz
Zafón (Planeta)
MAS É BONITO de Geoff Dyer (Quetzal)
VERDADE AO AMANHECER de Ernest Hemingway
ILHAS NA CORRENTE de Hemingway (Ed.
Livros do Brasil)
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de
Hernán Rivera Letelier (Quetzal)
O JOGO DO MUNDO de Julio Cortázar
(Cavalo de Ferro)
DIÁRIO PARA ELIZA de Lawrence Sterne
(Antígona)
FUGAS de Alice Munro (Relógio D´Àgua)
DANUBIO de Claudio Magris (Quetzal)
OS ANEIS DE SATURNO de W.G.Sebald
(Quetzal)
TELEFÉRICO DA PENHA (IMAGINÁRIO E
REALIDADE) de Esser Jorge Silva (Edições Húmus)
LIBRA de Don DeLillo (Sextante Editora)
RELATÓRIO DO INTERIOR de Paul Auster
(ASA)
AMSTERDÃO de Ian McEwan (Gradiva)
ALFABETOS de Claudio Magris (Quetzal)
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