TEMPO CONTADO de J. Rentes de Carvalho (Quetzal)

Ser senhor do seu tempo é ser senhor de si próprio VOLTAIRE

Para um leitor de assiduidade exemplar do blogue que o J. Rentes de Carvalho mantém, com actualizações diárias em tempocontado.blogspot.com, foi uma espécie de regresso aos anos de 1994 e 1995, aos quais reportam as entradas deste magnífico diário. A primeira caracteristica, e para mim, provavelmente a que mais avulta entre as muitas qualidades da escrita de J.Rentes de Carvalho é indefinivel por ser pessoal e intransmissível, é a de ser absoluta e completamente viciante. A clareza dos raciocínios, a visão atenta e sobretudo desempoeirada e fresca com que J.Rentes de Carvalho, nos brinda acerca de quase tudo aquilo em que podemos pensar ( e que o autor faz o favor de pensar por nós, note-se...) é absolutamente mágica. Em “Tempo Contado”, vamos acompanhando o quotidiano e pequenos e grandes eventos que se atravessam no “Tempo” que a J. Rentes de Carvalho pertence. Este diário, de este autor de que eu, ignorante confesso, ainda há escassos meses nada sabia, é uma amostra perfeita da mestria de Rentes de Carvalho. Sobre as situações mais comezinhas ou banais, na nossa perspectiva menos atenta claro, o autor lança luzes de uma profundidade de visão e de uma análise por ângulos que, à vista desarmada, nos escapam completamente. Vamos ao longo deste livro, que mais uma vez se lê de um fôlego, aprendendo a conhecer uma mundivisão muito particular. Não sei definir um escritor, muito menos uma pessoa pelo que ela escreve, acho sempre que o que se escreve nem sempre provém daquilo que somos, mas muito mais daquilo que sentimos no momento em que escrevemos, estes meus pequenos textos são, para mim, exemplo disso. Acho ridiculas comparações entre autores e estilos, mas também acho que há uns que são muitos iguais entre eles, (os que pretendem ser originais, em regra), e outros que são claramente incomparáveis. Rentes de Carvalho é uma figura incontornável da literatura portuguesa do nosso tempo, seja ele contado ou não. É um prazer imenso ler o que esceve, pela forma elegante como o faz, mas sobretudo pelo que nos diz, pelo que nos mostra, pela visão particular que mantém sobre situações e pessoas. Não sei o termo é o certo, mas é sobretudo refrescante ler Rentes de Carvalho, é uma espécie de regresso àquele tipo de escrita sã e simples que só o verdadeiro génio pode fornecer. Não há artificios literários, não há grandiloquência, pose, nem pompa, há simplesmente verdade. Tenho tido a sorte de obter algumas reacções a estas minhas sugestões de leitura, e no caso de J. Rentes de Carvalho, fiquei absolutamente feliz ao receber mais do que uma confirmação de amigos e leitores de que compraram, leram e gostaram. O contrário também não me parecia possível.Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

As Benevolentes de Jonathan Litell (D. QUIXOTE)

Tempestade de William Boyd (Casa das Letras)

O Filho Eterno de Cristovão Tezza (Record)


Comentários

Fernando Lopes disse…
O Mestre é de facto uma referência. Pena que por questões editoriais ande tão escondido.
Na minha modesta opinião Rentes é um segredo bem guardado, como aquele vinho muito especial e pouco divulgado, não por falta de mérito mas de publicidade.
Fazes um favor em divulgar à comunidade a obra deste Senhor das letras portuguesas.

Abraço,
Fernando

Mensagens populares deste blogue

Nonsense

O GNOMO (The Hobbit) de J.R.R. TOLKIEN (Livraria Civilização - Ed. 1962)

A ARTE DA ALEGRIA de Goliarda Sapienza (D. Quixote)