O Escrivão Público de Tahar Ben Jelloun (Cavalo de Ferro)
"Eu escrevia silêncios, noites, anotava
o inexprimível. Fixava vertigens.” Arthur
Rimbaud
Mais um livro surpreendente. Como de costume, na minha
longa carreira de fiel depositário de ofertas de amigos que partilham comigo
este caminho através dos livros, demorei algum tempo até chegar a este pequeno
volume que me introduziu em algumas boas novidades. Era-me completamente alheio
o nome do autor. Tahar Ben Jelloun, marroquino de nascença e educação, passa a
residir no princípio dos anos 70 em França e é aí que se torna conhecido e
regularmente publicado. Tenho de confessar que a literatura árabe é para mim
território quase virgem, não por qualquer motivo especial, mas sim pela mais
prosaica falta de acesso e recomendações nesse sentido. No entanto este
Escrivão Público vem de certa forma acordar-me para essa falha. O autor, em
consulta livre que fiz, e que pude constatar neste livro que hoje se recomenda,
utiliza muitas vezes referências autobiográficas e as próprias personagens da
sua família para ilustrar de uma forma, que pelo menos a mim me cativou
bastante a realidade marroquina. Há um certo contraponto entre o antigo e o
novo, uma visão de síntese entre um pensamento ocidental e a cultura e tradições
do mundo árabe que dificilmente uma pessoa com outro trajeto de vida poderia
por no papel. Nota-se neste livro um sabor de escrita especial, uma certa
musicalidade na prosa, por vezes diríamos estar na presença de descrições
poéticas de realidades umas vezes mais agradáveis e outras menos. Há muita
exploração dos personagens, nos seus limites enquanto seres humanos, nas suas
obsessões, manias e compulsões. Há mesmo, pelo menos neste livro um fio
condutor de uma certa pulsão sexual que nunca chega a terminar. Enfim, uma boa
descoberta, e mais do que isso, um aperitivo para mais. Espero ter tempo e
conseguir boas indicações para mais incursões neste estilo de escrita que não
conhecia. Recomendo sem hesitar. Boa semana e …. Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Guimarães no Século XX Vol. II de Raul Rocha (Povo de
Guimarães)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo
(Quetzal)
O Homem
Que Gostava de Cães de Leonardo Padura (Porto Editora)
O Ano do
Dilúvio de Margaret Atwood (Bertrand)
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