CONTOS COMPLETOS (1947-1992) de Gabriel Garcia Marquez (D. Quixote)
"Um livro de contos é um livro ligeiro de
emoções curtas: deve portanto ser leve, portátil, fácil de se levar na
algibeira para debaixo de uma árvore, e confortável para se ter à cabeceira da
cama. Não pode ter o formato dum relatório, que, sendo destinado em definitivo
a embrulhar objectos, deve ter de antemão o tamanho cómodo do papel de
embrulho; nem pode ter o volume dum calhamaço de erudição histórica, impresso
com o fim de ornamentar uma biblioteca.”
Eça de Queiróz
Não resisti à citação Queirosiana
acima. É um facto que o conto, a novela ou “short story” é um registo literário
que não é um domínio universal. Há imensos factores a determinar a qualidade
dos grandes “contadores de contos”. Há desde o registo mais factual, e nesse
campo há muitos autores que se nota que vem claramente do jornalismo para esta
área ( e Gabriel Garcia Marquez não é aqui a excepção), e há-os que dentro de um
campo mais especificamente literato também por aqui fazem umas incursões. Eu
devo dizer que sou um aficionado deste género e que tenho tido, felizmente, a
sorte de ter lido muitos e muito bons livros de contos. Lembro-me sobretudo de
ter descoberto, já no final da adolescência num alfarrabista amigo, um pequeno
livro de contos de Oscar Wilde, que li, e nele fui encontrar histórias da minha
infância, que erradamente atribuía ao domínio da cultura popular. Um dia aqui
falarei dessa boa surpresa. Hoje no entanto o tema é outro. É um regresso a um
dos meus autores favoritos, e que durante o tempo em que durou a tremenda
ilusão que me causou o “Cem Anos de Solidão” esteve num patamar cimeiro das
minhas preferências. A este respeito, e correndo o risco de me repetir, foi
talvez o único dos grandes livros da minha vida que não consegui reler. Ainda
não sei o porquê desse impedimento, mas a verdade é que quando alguns anos
depois da leitura inicial peguei no livro para o reler, não consegui passar da
primeira página. Um destes dias tento outra vez. Voltando à sugestão (ou
sugestões ) desta semana, é absolutamente fácil recomendar esta obra. Estão
neste volume (que contradiz em parte a recomendação de Eça de Queiróz acima,
mas que se compreende que todos estes contos obedeceram a ela cada um na sua
vez), dizia, estão neste volume 45 anos de escrita, representados numa coleção
de 41 contos. Para quem já leu Gabriel Garcia Marquez, é quase abusivo tecer
considerações ou mesmo tentar apontar méritos à sua escrita. Para quem, por
azar, nunca tenha lido, tem aqui muitos e bons caminhos para iniciar esse
trilho. Por manifesta falta de espaço a que esta coluna me obriga, voltarei a
este volume de contos com a minha opinião sobre aqueles de que mais gostei. No
entretanto, comprem, e aproveitem, é no mínimo mágico. Boas Leituras! J
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo
(Quetzal)
O Ano do
Dilúvio de Margaret Atwood (Bertrand)
Ravelstein
de Saul Bellow (Quetzal)
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