A AMANTE HOLANDESA de J. Rentes de Carvalho (Quetzal)

Nas ligações do coração, como nas estações, os primeiros frios são os mais sensíveis BERNARD FONTENELLE

Cumprindo o que tinha prometido a mim próprio, aqui prossigo a minha descoberta particular do universo literário de J. Rentes de Carvalho. Este livro, “A Amante Holandesa”, não fez mais do que confirmar a impressão poderosa que me tinha deixado o primeiro que li, “Ernestina”. É um facto, J. Rentes de Carvalho é um escritor a sério. E digo isto alicerçado numa posição particular, de quem tem sempre, defeito meu decerto, preferido a literatura internacional ao que por cá se edita de autores nacionais. Irrita-me bastante a constante descoberta de “novos valores” e de “revelações”, que se vem a revelar, isso sim, grandes decepções para mim. É um pouco como se o futebol produzisse Eusébios e Maradonas em série, se é que me faço entender. Bem, retomando o tema e o autor, começo por dizer que, ao contrário de outras obras esta é-me dificil de classificar, ou encaixar numa das prateleiras mentais de que disponho para os livros. Uma hipótese será a de dizer que é um livro que vale por si. Não precisa de estar associado, a nenhuma obra nem a nenhum autor, para ser um grande livro. “A Amante Holandesa” é uma obra excepcional que nos revela o mundo interior de dois homens, dois amigos que se vão revelando, naquilo que são e sentem acerca da vida que tem, mas sobretudo da que não conseguiram ter. J. Rentes de Carvalho, pinta-nos as suas personagens juntamente com as paisagens e os sítios de onde elas nos falam. E se falam. Não é fácil encontrar alguém que nos conte histórias que vão para além de um bom enredo. Este livro tem-no, tem suficientes mudanças de direcção e surpresas para nos fazer por em causa o nosso próprio entendimento do que é cada um dos personagens, mas vai muito para além disso. Não nos revela sómente o que é cada um dos intervenientes, dá-nos o conjunto das suas angústias e frustrações, dá-nos a medida humana de cada uma das personagens, naquilo que revelam, mas sobretudo naquilo que escondem. É, como antes dizia, um livro que caí em nós e permanece. Deixa-nos uma sensação de profundidade, e paradoxalmente, um vazio muito grande quando termina. É mais um livro que vai para um lugar muito especial de entre todos que li. Estou absolutamente rendido ao talento de J. Rentes de Carvalho. Procurem e leiam, que estou absolutamente certo, que vão, como eu, recomendar. Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

As Benevolentes de Jonathan Litell (D. QUIXOTE)

Tempestade de William Boyd (Casa das Letras)

A Tapeçaria do Sinai de Edward Whittemore (Ulisseia)

O Homem que matou Getúlio Vargas de Jô Soares (EDITORIAL PRESENÇA)

Comentários

N. Martins disse…
Foram as opiniões tão positivas que li neste blogue que me levaram a comprar "A Amante Holandesa". Acabei de o ler e achei-o genial! :)
Fiz referência ao Estante Acidental no meu blogue, na opinião que escrevi acerca do livro (http://queroumlivro.blogspot.com/2011/02/amante-holandesa-j-rentes-de-carvalho.html).
Obrigada pela boa sugestão!
Ricardo disse…
Bom Dia! Fico muito contente que tenha gostado da sugestão, e agradecido pela simpática referência ao meu blogue. J. Rentes de Carvalho é de facto um escritor que vale a pena ler. Acabei na semana passada o livro "Tempo Contado". Mais um a não perder. Se me permite, aconselho vivamente o "Ernestina". Obrigado, Boas Leituras!!!!

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