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A mostrar mensagens de 2011

LÚCIO FETEIRA (A História Desconhecida – Das Origens à Glória Vol. I) de Miguel Carvalho (Quidnovi)

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"Nenhum homem é suficientemente rico para comprar o seu passado” Oscar Wilde Este livro é seguramente um caso muito especial. Para início de conversa e fornecendo a respectiva declaração de interesses, fica desde já registado que o Miguel Carvalho é um querido amigo meu em territórios que extravasam em muito o âmbito literário. É difícil, como sabem todos os que o conhecem, separar o Miguel daquilo que escreve. Sem puxar para aqui outros galões que não os da amizade (e o Miguel tem-nos como poucos) deixem-me dizer aquilo que já de outras obras dele me atinge naquilo que ele escreve. As palavras para descrever a obra de um amigo são de parto difícil, porque se há a tentação estúpida e inconsequente de sermos um juiz mais imparcial pela proximidade, há também um conhecimento mais próximo do autor que pode afectar pela confusão entre o que conhecemos do autor e do que ele reflecte na obra. Tudo isto é com o Miguel Carvalho um exercício de grande inutilidade, e felizmente pela

FERRUGEM AMERICANA de Philipp Meyer (Bertrand)

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"Não adianta discutir com o inevitável. O único argumento disponível contra o vento de leste é vestir o sobretudo” James Lowell Presente de aniversário de uns queridos amigos e amplamente recomendado, este “Ferrugem Americana” não oxida minimamente o leitor. É um grande romance, na melhor tradição americana. Sou insuspeitamente um admirador de Hemingway, de Faulkner, de Steinbeck e de outros que o século XX nos ofereceu como grandes pintores da paisagem americana. Este é um retrato de uma América profunda, de um cenário de devastação pós-industrial (tem muito daquilo que se ouve e lê nas musicas de Bruce Springsteen). É uma obra que desce à vida do americano médio numa cidade atacada pelos fumos da globalização, do desemprego colectivo, da desilusão em massa. De um presente que não oferece saída. É um romance que nos pinta um certo fim do sonho americano. Os escritores que mais aprecio são, na sua maioria, grandes construtores de personagens. Philipp Meyer é exímio nessa t

INFORSCRAVOS de Douglas Coupland (Teorema)

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"Nós nascemos, vivemos por um breve instante, e morremos. Sempre assim aconteceu durante imenso tempo. A tecnologia não ajuda muito isso – se é que muda alguma coisa” Steve Jobs Douglas Coupland é, de entre autores que marcaram mais ou menos uma época, mais conhecido pelo romance que o lançou no meio literário nos anos noventa do século passado, o sucesso editorial “Geração X”. Recordo-me bem de me ter sido na altura indicado por um amigo que estava a viver em Sydney, na Austrália e à data não estar ainda publicado entre nós. Há na literatura sempre autores cuja obra fica de certa maneira “colada” a um determinado período histórico, neste caso Douglas Coupland é um de entre muitos e bons exemplos de jovens escritores que (d)escreveram uma realidade particular de uma altura considerada no tempo. Tal como muitos de que aqui temos falado, e muitos deles escreveram obras magníficas a retratar a sociedade dessa altura, também este autor nos traça um retrato da tipologia social

EXODUS de Leon Uris

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"Os factos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles.” Clarisse Lispector Nem sempre os livros de que me lembro para recomendar são os mais recentes. Este é um caso que configura algo de especial e que, poucas vezes me aconteceu. Muito menos vezes com romances de cerca de 600 páginas como este. Foi o primeiro livro de que tenho memória de ter livro do princípio ao fim sem interrupções. Comecei-o numa noite pelas vinte e duas horas e acabei já com o sol nascido perto das sete da manhã. Se melhor cartão-de-visita houvesse. Foi dos primeiros encontros que tive com uma forma de escrita absolutamente viciante. Leon Uris, o autor faz a história da criação do estado de Israel com recurso ao cruzamento de uma série de histórias individuais. O nome “Exodus” foi retirado de um navio de imigração de judeus com destino à palestina em 1947. Há inclusive um filme de 1960 que teve origem nesta obra, para quem se lembra, protagonizado por Paul Newman. Parece-me que no act

Porno Popeia de Reinaldo Moraes (Quetzal)

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"Perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros tem de curiosamente atractivo” Oscar Wilde Começo por um aviso, que aliás devia constar na capa deste livro. É para adultos! E de entre os adultos, refaço o aviso: não é para todos! É das coisas mais difícil de classificar de todas as que tenho lido, e não me refiro aos últimos tempos. De sempre! É um livro absolutamente genial. Brutal, crú, inteligente, escatológico, gráfico, descritivo, obsceno, mas sobretudo de um humor fora de série, e profundamente humano, é bom frisar. O titulo não é definitivamente uma manobra de marketing livreiro, é de facto uma espécie de porno (e)popeia. É talvez o retrato mais vivido de alguém que vive no extremo, o protagonista, o genial José Carlos (Zeca) conta-nos na primeira pessoa os dias e noites da sua vida absolutamente dissoluta. Não encontro nada de semelhante na literatura lusa de que me lembre, é como se houvesse um Irvine Welsh brasileiro, mas num registo

AS DESVENTURAS DO SR. PINFOLD de Evelyn Waugh (Relógio d´Água)

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"Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem” SAMUEL BECKETT É, confesso, a primeira leitura que faço de Evelyn Waugh. Facto que merecerá provavelmente alguma censura, sabendo-se que Waugh é autor de, entre outras obras “Reviver o Passado em Bridshead”, e um dos grandes romancistas e polemistas britânicos do Séc. XX. Este livro apesar de ser um pouco controverso relativamente à totalidade da obra de Waugh e ser por alguns tido como um produto relativamente menor no todo da obra, não deixa de não ser um excelente ponto de partida. Mantendo a fidelidade aos propósitos desta coluna de sugestões de leitura, não trago aqui nada que não me tenha dado prazer em ler. Com este livro não foi diferente. O inicio é absolutamente cativante com o "retrato do artista na meia idade", uma viagem a um universo interior de Gilbert Pinfold, o protagonista que é simultaneamente um alter ego de Waugh. A história tem uma origem assumidamente autobiografica. Reproduz uma das fases da v

Another one from my friend Miguel Bastos

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O Ladrão que Estudava Espinosa de Lawrence Block (Livros Cotovia)

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"O roubado que ri furta algo ao seu ladrão” William Shakespeare Há já algumas edições que aqui não se sugeria um policial. É, como se pode concluir da percentagem assinalável de sugestões do género, uma das minhas leituras favoritas. Este de que se fala hoje foi-me recomendado ( e dado a ler, valha a verdade…) pelo meu bom amigo Miguel Bastos, vimaranense dos sete costados emigrado em terras do Vale do Sousa. E a verdade toda é que até agora não tem falhado um único tiro, este não foi a excepção. Lawrence Block é um autor consagrado ne género, que apesar de tudo me era completamente desconhecido. São os casos em que mais prazer tiro da leitura, quando não conheço absolutamente nada do autor e a expectativa está somente ao nível da recomendação. Posso-vos dizer que gostei, apesar de também me ter sido dito que haverá obras menos conseguidas por Lawrence Block, esta não é certamente uma delas. De qualquer forma, como tenho o hábito de fazer, vou mais uma vez desfiar o novelo

Acidentalmente chegamos às Cem!

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"Eu sempre imaginei que o paraíso deve ser algum tipo de biblioteca” Jorge Luis Borges Esta semana esta coluna chega à sua centésima edição. Fizeram-se aqui mais ou menos o mesmo número de sugestões de leitura. Dentro do aleatório que é aquilo que tenho vindo a ler, ou coisas mais antigas cujo prazer de ler me apeteceu partilhar. O número em si, não significa nada, mas é uma boa oportunidade para falar um pouco da minha relação com os livros. Uma boa porção daquilo que sou hoje devo-o ao que li. Muito mais do que o que vivi por mim, grande parte da experiência de vida que me acompanha tomei-a emprestada de muitos e bons contadores de histórias. Hoje, talvez seja mais difícil acompanhar (e sobretudo escolher) tudo o que de bom vai sendo publicado. Numa lógica de “ publish or die ” que vem a ser o grande lema de editores e livreiros, temos as estantes das livrarias, as de facto e as virtuais, positivamente vergadas ao peso de muita coisa que não vale o papel em foi impressa.

A não perder!

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Ainda o meu aniversário...

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Do Grande Miguel Carvalho!

O SEMINARISTA de Rubem Fonseca (SEXTANTE EDITORA)

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"Quando tiramos a vida aos homens, não sabemos, nem o que lhes tiramos, nem o que lhes damos.” Lord GEORGE BYRON Está esta coluna quase a chegar à sua centésima sugestão de leitura, e dou-me conta, pelo motivo que a seguir se tornará claro, que há uma injustiça que precisa de reparo imediato. Se é verdade que tento agradecer por esta via boas sugestões e oferta de livros por parte de amigos, não deixará de ser estranho que nunca tenha publicamente agradecido ao individualmente considerado maior responsável pela existência e manutenção da “Estante Acidental”. Falo do meu bom Amigo Jorge Castelar, que, quando surgiu esta coluna era o Director do jornal O Povo de Guimarães, e a quem devo o apadrinhamento inicial, e muitas vezes a motivação, para continuar a aqui me atrever a sugerir e partilhar leituras. Ora como acima insinuei, este agradecimento não vem só. Foi também o Jorge Castelar que me ofereceu este fabuloso policial de Rubem Fonseca. Devo dizer que o li de fio a pa

O CEMITÉRIO DE PRAGA de Umberto Eco (GRADIVA)

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"Não conspira quem nada ambiciona” SÓFOCLES De regresso a um dos meus autores de culto e provavelmente um dos maiores e melhores escritores contemporâneos. Se “O Nome da Rosa” e “O Pendulo de Foucault” já foram aqui sugeridos, não poderia deixar de falar neste ultimo livro que tem características absolutamente únicas. Se deixarmos de lado alguma da polémica estéril que alimentou ao longo de meses por alturas do seu lançamento. A propósito de ser ou não ser uma obra de cariz panfletário anti-semita, o que para mim ou é “marketing” ou pura estupidez de quem não leu. Ou ainda de quem leu e não quis entender. Sim, que também há muito quem não perceba o que está para além da ponta do próprio nariz. Este livro é ao contrário de quem leve o que lê e vê ao pé da letra, um enorme exercicio de desconstrução e desmitificação de alguns dogmas relativos ao universo das seitas, movimentos e sociedades mais ou menos secretas, que dizem pulular por aí, e que neste final/principio de milén

A estante está a ficar com mais livros do que tempo.....

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"Gracias" ao meu Amigo Miguel Bastos!

Duro golpe na minha lista de compras...

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Ofertas de Amigos!!!! Felicidade é tê-los como eu os tenho!!! 

Lançamento do livro do meu Amigo Zé Maria Pinto de Almeida

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Apareçam!

From Japan with love...古都

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Da minha Dalila que nunca, nunca se esquece de mim!!!

HOMEM NA ESCURIDÃO de Paul Auster (Edições ASA)

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"As dores ligeiras exprimem-se; as grandes dores são mudas” SÉNECA Paul Auster é para mim um caso de amor/ódio, ou mais exactamente, porque a escala não é essa, de entusiamo/indiferença. Alterna romances e estórias sublimes e esxtaordináriamente contadas com alguns titulos que, pessoalmente não aconselho. É um facto que há escritores que escrevem muito, tem uma produção literária avassaladora. De entre estes há cada vez menos que se possam considerar bons em tudo o que publicam. Suponho que não será sómente responsabilidade dos próprios. O mundo editorial tem vindo a revelar-se como um universo num crescendo de “publish or die”, que, sinceramente não sei onde irá parar. Para fazer só um pequeno reparo a este cenário atentem na quantidade absolutamente indescritivel de novos titulos que surgem diáriamente e que se acumulam de forma quase desrespeitosa nas prateleiras de livrarias e hipermercados. É trágico para muitos bons autores e para não menos bons livros que o tempo

JOÃO AGUARDELA “Esta Vida de Marinheiro” de Ricardo Alexandre (Quidnovi)

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"A tragédia da morte consiste em que ela transforma a vida em destino” ANDRÉ MALRAUX De vez em quando, ao prazer de ler junta-se algo extra, uma motivação que acresce. É sempre o caso quando alguém que nos é próximo é quem escreve o livro que lemos. Há no momento que antecede a escrita e que a justifica, algo de fundamentalmente humano. Por vezes a raiva, o medo, a necessidade de partilha, o protesto, a vontade de dividir sentimentos, enfim um mundo de sentimentos e emoções, que se procuram fazer entender por quem lê. Provavelmente o Amor e a Amizade são das causas mais aproveitadas para catalizar essas emoções ou necessidades. Sendo que a Amizade é, para mim, uma forma superior de Amor, (pelo menos parece ser um virus mais resistente à acção do tempo e dos outros) e é um dos meus temas favoritos. E não é uma questão meramente individual, algumas das coisas mais sublimes que já li tem a marca indelével da Amizade. É o caso deste livro. É uma empresa que, seguramente, nã

Nova leitura!

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Descoberto dentro do "caos organizado" da Estante e já começado. A suivre...

Esta Vida de Marinheiro - Sexta passada na Fnac do Norte Shopping

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Lançamento no Porto do livro do meu Amigo e Compadre Ricardo Alexandre sobre a vida e obra de João Aguardela líder dos Sitiados. Na próxima crónica da Estante!

O PERFUME de Patrick Suskind (Editorial Presença)

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"Quem possui talento torna-se vítima dele e vive no vampirismo desse talento” FRIEDRICH NIETZSCHE Prossigo esta semana na minha senda de recomendar leituras de há muitos anos. Uma espécie de RTP Memória em formato literário. Uma por outra vez lembro-me de livros dos quais gostei particularmente. Há que dizê-lo que também me vem suficientes vezes à ideia leituras das quais não gostei absolutamente e, mais ou menos em igual número, livros que não consegui terminar. Destes últimos não se fala aqui como é óbvio, a não ser que algo de surpreendente se tenha passado e, por exemplo venha a terminar uma leitura inacabada. Seria, de qualquer forma, caso raro. Bem, adiante, que para introdução esta já vai longa. Correndo o risco de estar a sugerir um livro que toda a gente já leu, faço-o de qualquer maneira. Pode servir para lembrar para oferecer ou, para quem gosta, para uma releitura. O Perfume é um dos mais extraordinários romances que me foi dado ler. Não sei já quando, a obra é

Noite de Cinema

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Fantástica noite a de ontem, promovida pelo Cineclube de Guimarães.  A propósito de um documentário para a RTP acerca de Manuel António Pina, (o ultimo galardoado com o Prémio Camões), a exibição de um dos seus filmes favoritos (se não mesmo O seu filme favorito). "A Sombra do Caçador" com um Robert Mitchum num papel de antologia. Nunca tinha visto. O epíteto de obra prima assenta-lhe! Fenomenal sob qualquer ponto de vista! Curiosidade: no intervalo foi sorteado o livro do M.A. Pina, que, veio cair nas mãos do meu amor, com direito a sessão de autógrafo (no singular). Noite boa!

QUANDO NIETZSCHE CHOROU de Irvin D. Yalom (Saída de Emergência)

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"A angústia é a disposição fundamental que nos coloca perante o nada” HAIDEGGER Nesta coluna tenho conseguido (na maior parte das vezes), falar de livros que acabei de ler ou que li muito recentemente. Acontece por vezes que por motivos de força maior não me é possível ler um livro novo por semana. Sendo que também acontece o contrário e há semanas em que leio mais do que um. Esta estranha introdução serve para me justificar de, por vezes, entre a leitura que fiz e a respectiva sugestão decorrer algum tempo. É o caso deste livro, que, foi lido já há mais de um ano mas que por um ou outro motivo nunca aqui sugeri. E tenho pena de não o ter feito antes. Vale a pena. É uma muito inteligente abordagem, com pouca liberdade histórica, sobre grandes mitos do pensamento do final do século XIX e principio do século XX, mais concretamente da filosofia e do estudo do cérebro como foram Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud e Josef Bauer. É um romance interessantíssimo que cruza a existê

OS LINDOS BRAÇOS DA JÚLIA DA FARMÁCIA de José Rentes de Carvalho (QUETZAL)

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"Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso” de MONTAIGNE Muito dificilmente admito certas coisas a mim mesmo, uma delas, vá lá saber-se porquê, é o “pecado” da idolatria. Simplesmente nunca fui de cultos nem gosto particularmente de gente que revira os olhinhos quando olha para os seus deuses, particulares ou colectivos. Talvez seja daí que vem o meu relativo desapego a concertos e festivais. Um dia vos direi sobre o efeito que os “encores” me provocam. E a verdade é que quanto mais alto se coloca a fasquia maior é o tombo, literalmente. Assim, tento pautar-me por um entusiasmo saudável que me garanta que não tenha muitos dissabores, pelo menos nas leituras, que é o que aqui importa. José Rentes de Carvalho, é um dos poucos nomes que realmente me entusiasma no panorama literário a que vou tendo acesso, e se falarmos de autores portugueses vivos, a coisa anda dividida por dois, um é o Rentes de Carvalho, o outro poderá ser um livro qualquer de qualquer autor desde que ven