O FEITIÇO DE XANGAI de Juan Marsé (D. Quixote)

A cura está ligada do tempo e às vezes também às circunstâncias HIPÓCRATES

Comecei este livro, oferta de amigos, com toda a abertura e esperança que alguma da recém descoberta literatura catalã me podia dar (descoberta para mim, claro está, basta ver em crónicas anteriores a minha incursão ao universo de Carlos Ruiz Zafón, como exemplo). No entanto, algo de parecido com um “feitiço” tomou conta de mim. Desde as primeiras páginas, uma sensação nebulosa de “déjà vú”, ou mais propriamente “déjà lú”. À medida que entrava de facto na história e nos seus personagens essa sensação foi-se intensificando até que, se fez uma luz. Não, não tinha já lido o livro. O que aconteceu é que, fruto de viver numa cidade que me oferece o privilégio de ser sócio de um dos mais antigos e certamente o mais activo e participado de todos os cineclubes do País, já tinha visto o filme. Curioso, não ter feito de imediato a ligação entre um e outro. Um bom filme de Fernando Trueba “El embrujo de Xangai”, que retrata com grande fidelidade o ambiente do livro. Passado em Barcelona, no pós Guerra, este livro conta-nos a historia de dois adolescentes, que animam os seus dias com a história de um aventureiro mítico que embarca rumo a Xangai para tomar parte em grandes proezas. É na partilha desta história que Daniel e Susana (doente com a tísica) vão emprestando sentido às suas vidas, até que, como muitas vezes sucede, a realidade se intromete para dar outro desenlace ao enredo. E um bom livro, recheado de excelentes personagens e um cenário de uma Barcelona de bairro, com gente que se sente viva. Uma boa história bem escrita. Há uma personagem contudo que se eleva acima das demais, em minha opinião: o Capitão Blay, é um ser estranho, excêntrico, mas tem todas as características que marcam as personagens verdadeiramente inesquecíveis, é um pouco louco, quixotesco e delirante, mas é também simultaneamente humano, generoso e divertido. O autor era-me estranho. Já não é. Juan Marsé é um nome que merece ser lido. Para já neste “Feitiço de Xangai” e depois nos que se lhe seguirão. Aconselho sem hesitações. Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

As Benevolentes de Jonathan Litell (D. QUIXOTE)

Tempestade de William Boyd (Casa das Letras)

O Filho Eterno de Cristovão Tezza (Record)


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