A MULHER CERTA de Sándor Márai

“Não amamos a mulher por aquilo que diz, mas escutamo-la se a amamos” André Maurois

É o segundo livro que leio de Sándor Márai, o primeiro prometia a descoberta de um grande escritor, “As Velas Ardem Até ao Fim”, um reencontro de dois amigos, verdadeiros amigos, separados há quarenta anos e com um conflito por resolver, para resumir, uma obra-prima.A promessa de descoberta deste enorme escritor está cada vez mais cumprida, nesta segunda obra “A Mulher Certa”. Penso, e talvez a maior parte dos leitores compulsivos como eu, que há dois ou três aspectos fundamentais que distinguem que sabe de facto contar uma estória, a descrição dos ambientes, o enredo, mas fundamentalmente a caracterização das personagens. Sandor Marai é um mestre das personagens. Este livro, ou melhor este conjunto de estórias que se conjuga em livro, já que se trata de uma obra escrita em vários andamentos, começa por ser escrita como dois monólogos aos quais o autor acrescenta uma terceira parte e ainda um epilogo, este já escrito em 1980, se virmos que a primeira parte foi publicada em 1941 e uma das partes acrescentada em 1949, estamos perante uma obra que demorou praticamente 40 anos a ficar inteira, concluida. Não se trata contudo de uma tetralogia, não obstante as quatro partes distintas, é mais, se assim o entendermos, um conjunto de contos que fazem sentido entre si.

Sándor Márai, disseca e vai ao mais profundo das relações humanas, explora todas as vertentes e cambiantes daquilo que vemos uns nos outros e na forma como nos entregamos ou não. É um purista da linguagem, não encontramos um paragrafo a mais ou a menos, não sentimos que a obra fica aquém do que promete, muito pelo contrário. A temática do amor, da falta dele, da eminente mortalidade das personagens, os conflitos interiores cuja descrição destaco pela excêlencia, fazem deste autor e da sua obra uma verdadeira homenagem ao respeito pela verdadeira literatura. Este autor hungaro, tem uma vastíssima produção literária, cujo auge se situa nos anos 40 do século XX, e só não é mais conhecido, porque, tendo sido sempre um critico inconformado do regime comunista hungaro, viu as suas obras serem proibidas e ostracizadas por este, facto esse que o terá marcado até à morte por suicidio.

Que posso eu dizer, senão reconhecer após ter lido estes dois romances, que não seja, que se vê a consistência literária e moral deste autor. Que, e para mim não é indiferente a distinção, é um Escritor, na verdadeira acepção da palavra. Continuarei a procurar regressar ao que escreveu, porque mais do que escrever formalmente bem, é preciso conhecer as coisas de que se fala. E Sándor Márai conhecia-nos bem a todos. Boas Leituras!

PARA A SEMANA: A TROCA de David Lodge (Edições ASA)

NA MESINHA DE CABECEIRA:

Continuam:

NO CORAÇÃO DE ÁFRICA de William Boyd (Casa das Letras)

CITAÇÕES E PENSAMENTOS DE FERNANDO PESSOA de Paulo Neves da Silva (Casa das Letras)

INÉDITOS de Antoine de Saint Exupéry (Casa das Letras)

BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA de Pablo de Jevenois (Esquilo)

O MONTE DOS VENDAVAIS de Emily Bronte

A ESTIRPE de Chuck Hogan e Guillermo del Toro

OS ANAGRAMAS DE VARSÓVIA de Richard Zimmler

Comentários

Bípede Falante disse…
O primeiro livro que li do Márai foi justo este. Aqui no Brasil, traduzido por De Verdade. Depois passei para as Brasas (As Velas ardem até o Fim) e já cheguei em nove lidos. Ele é absurdamente talentoso. Conheci por causa dos livros um húngaro que fala português, e ele me disse que o De verdade, no caso, A Mulher Certa na edição portuguesa, deveria ser traduzido por O Verdadeiro ou então por A Verdadeira. Não há gênero definido. Fica por conta do leitor.
Bípede Falante disse…
Ah, eu sou a Bípede. Uma brasileira. E junto com outros blogueiros de vários lugares criei um blog chamado Mínimo Ajuste para postagens de todos os estilos e sem compromisso. Se quiser juntar-se a nós, será um prazer :)
www.minimoajuste.blogspot.com
Ricardo disse…
Olá, Cara Bipede,

Com muito prazer aceito o convite, diga-me pois o que devo fazer para integrar o Mínimo Ajuste.

Ricardo
Bípede Falante disse…
Ricardo, mando o convite para o seu email. Você entra no endereço que consta nele e clica em aceito. Depois, publica o que quiser, quando quiser.

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