UM DEUS PASSEANDO PELA BRISA DA TARDE de Mario de Carvalho (CAMINHO)
“Haja ou não deuses, deles somos servos” Fernando Pessoa
Tenho que começar esta crónica com duas revelações. A primeira, e que da qual se dá conta com relativa facilidade olhando para os livros que normalmente vou lendo, é que o grupo a que chamo de “autores portugueses vivos”, não é dos meus favoritos. É um preconceito descabido, bem sei, mas o facto é que me habituei de tal forma à literatura internacional, que fui descurando um pouco este sector. Assim, tem escapado ao meu interesse muitos e bons romances portugueses, estou certo disso. Acho que me redimo com o Eça, que de certa forma está também vivo e actual. A segunda revelação é a de que o livro proposto para esta semana, apesar de estar quase terminado, a verdade é que não o está de facto ao tempo em que escrevo estas linhas. Não me impede no entanto de o comentar o não lhe conhecer o final. Até porque deste darei nota em futura “Estante”. Mario de Carvalho é um nome fácilmente reconhecivel no panorama livresco portugues. Não fora o avisado conselho de um Amigo das “Terras do Vale do Sousa” e temo me teria passado ao lado. Ainda bem que não. Estou francamente a gostar muito desta estória. O contexto histório é a imaginada terra de Fortunata Ara Tulia Tarcisis, posse do Imperio Romano e onde Lucio Valerio Quincio é a personagem central. A escrita de Mario de Carvalho é uma escrita atenta, estilizada. Demora um pouco ao leitor a entrar no ritmo que o autor impõe com o seu estilo. É uma forma de escrever em que, com facilidade pensamos no autor a cinzelar cada frase de forma muito atenta. Isso faz com que o ritmo de ler se torne mais compassado, mas também mais atento. Depois de entrarmos no universo destas personagens e dos seus problemas, a administraçao da justiça, a ordem e/ou desordem do Império, a sua vida quotidiana, a descrição em pormenor de usos e costumes, ganhamos claramente um livro que vale a pena ler. O tema da Roma Antiga e do seu Império, como sabe quem acompanha estas minhas apreciações sobre o que vou lendo, é um tema do qual gosto particularmente, já tendo aqui aconselhado a Colecçao Roma Sub Rosa de Steven Saylor. Regressando ao, para mim novo, escritor Mario de Carvalho, posso, para fechar dizer que se me apresentou muito bem e que tenciono ler outras coisas suas. Podendo, façam o mesmo. É autor, é português, está vivo, e neste caso, recomenda-se. Boas Leituras!
PARA A SEMANA: A FORMA DA AGUA de ANDREA CAMILLERI (DIFEL)
NA MESINHA DE CABECEIRA:
Entram: CADERNO AFEGÃO de Alexandra Lucas Coelho (Tinta da China) e ESCRÍTICA POP de Miguel Esteves Cardoso (Assírio & Alvim)
Continuam:
INÉDITOS de Antoine de Saint Exupéry (Casa das Letras)
CRÓNICA DO PÁSSARO DE CORDA de Haruki Murakami (Casa das Letras)
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