O MUSEU BRITÂNICO AINDA VEM ABAIXO de David Lodge (Edições Asa)

“Os preconceitos têm maIs raízes que os princípios” NICOLAU MAQUIAVEL

Prosseguindo na minha auto imposta tarefa de sugerir leituras, acto que pode parecer impertinente, mas é sobretudo sincero, e, por me ter cruzado na Fnac com um bom amigo, daqueles que só vemos infelizmente muito de vez em quando. Lembrei-me que este autor também não lhe é estranho. E desse amigo antigo, com quem partilhei muitas e boas leituras em anos melhores (porque mais jovens, tão sómente) longe de Guimarães, retirei para sempre algumas sugestões de autores que me acompanham até hoje. Ainda assim, como se verá na proposta que se segue, poderá ser considerada a minha insistência em determinados autores, para quem discorde das minhas escolhas, uma perda de tempo. Ora para mim, que sou relativamente teimoso quanto a defender aquilo em que julgo acreditar, reafirmo que há quem escreve bem e tenha algo para nos contar. Há ainda os que escrevem bem, e não tem nada para nos contar, e, pasme-se, há cada vez mais quem não escreva nem bem nem mal e não tenha mesmo nada para nos contar. As livrarias estão a transbordar de exemplos. Poderá ser uma opinião de algum radicalismo, mas, eu acho que ao que antigamente se chamava o “romance que está na gaveta”, as editoras fizeram um trabalho de perseguição a tudo o que possa “cheirar” vagamente a novidade. Ainda que nem sempre o “cheiro” se confirme como o melhor, depois das respectivas leituras. Adiante. Eu que nesta como noutras matérias prefiro um conservadorismo saudável a um certo progressismo bacoco que campeia por aí, vou entremeando boas surpresas que tenho tido (sim, que também as há) com sugestões de relativo pouco risco quanto ao conteúdo. David Lodge, será, (exercício de quantificação que ainda não fiz) um dos mais sugeridos autores nesta coluna. E é-o porque, do conjunto do que tem publicado em Portugal e de tudo o que tenho lido sempre mostrou uma consistência e uma qualidada literária muito, muito acima da média. Encaixa de facto nos que escrevem muito bem e tem muitas coisas para nos contar, mostrar e até ensinar. A isto, e não posso deixar de lado esta caracteristica que é uma das que mais valorizo na escrita, tem uma visão que revela um humor particular e muito do meu agrado. Este livro que se sugere esta semana não é novo, é de 1965 e é apenas o terceiro romance de David Lodge, mas retrata com particular boa disposição a vivência de uma familia católica (dentro de um universo maioritáriamente anglicano) e a sua luta por compaginar o dogma com a realidade. Para resumir uma excelente história, Adam Appleby é o católico, praticante, já com três filhos, e , para cumprir com as boas práticas católicas, aplica o método das temperaturas como medida anticoncepcional. Ora parece que Deus lhe envia, ainda a caminho, um quarto filho. É da incongruência entre o viver e o obedecer aos ditâmes da Igreja que se contrói uma deliciosa história de costumes. Mais um excelente livro a não perder. Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

A Casa Verde de Mario Vargas Llosa (Dom Quixote)

Comentários

Bípede Falante disse…
Que inteligente frase sobre o preconceito! Adorei.
beijos

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