Bufo & Spallanzani de Rubem Fonseca (Sextante)
“O sono é um entreacto no drama da vida.” Jean Commerson
Cumprindo uma auto imposição de que aqui dei conta há algumas semanas, fui
em busca de mais obras de Rubem Fonseca. No espaço de tempo entre a última sugestão
que fiz da obra deste autor, “O Seminarista” e que tão bem me abriu as portas
desta escrita deliciosa e genial, o próprio autor esteve em Portugal integrado
no “Correntes d´Escrita”, espécie de congresso de letras da lusofonia. Dentro
desse contexto quero crer que muitos dos meus amigos que comigo partilham este
“vício” das leituras, terão tido a oportunidade de o ficar a conhecer melhor
pela exposição mediática que teve. Para quem ainda não leu, fica aqui mais do
que uma sugestão, um aviso para a perda que é não conhecer este registo
absolutamente único de mais um dos autores sénior que constituem cada vez mais
uma espécie de Senado das Letras a que me vou cada vez mais rendendo. Este
“Bufo & Spallanzani” é mais um policial, e é tão-somente o policial mais
atípico que me recordo de ler. Em tudo, desde as personagens, ao título mas
sobretudo na estrutura da narrativa que é absolutamente genial. É uma espécie
de livro que se escreve por dentro, como poderão verificar pela leitura. Começa
de forma absolutamente normal para qualquer romance policial, com o proverbial
crime e o proverbial polícia que inicia a tarefa das investigações, mas este
registo dura um par de capítulos, porque a história começa a traçar curvas e
diagonais entre a história de início e a história do próprio narrador,
cozinhada da forma absolutamente brilhante. O que mais admiro na forma como
Rubem Fonseca escreve é a sua infinita capacidade de ironizar e de dar às suas
personagens aquele carater de beira-de-precipício que as ajuda a tornar
absolutamente credíveis. Este livro em particular constitui-se como um
exercício de escrita em que o rótulo de romance policial é absolutamente
acessório. É para mim, pelo menos, um excelente livro, que, por acaso anda à
volta de um crime. A construção da personagem principal é magistral, ressalto o
capítulo “O meu passado negro” onde se começa a conhecer o percurso do
protagonista e que é um delírio de bem escrito e imaginado. Para quem conhece
não é nada de novo certamente, para quem não conhece, recomendo absolutamente.
A realidade pode, em confronto com os livros de Rubem Fonseca (pelo menos este
par deles que já li) estar claramente a perder para este mundo que de tão bem
ficcionado e escrito não se consegue parar de ler. Muito bom! Aproveitem! Boas Leituras! J
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo
(Quetzal)
O Ano do
Dilúvio de Margaret Atwood (Bertrand)
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