O Declinio da Mentira/A Alma do Homem e o Socialismo de Oscar Wilde (Relógio d´Água)
“A aventura não está fora do homem, está dentro” George Sand
Esta semana vou sugerir uma obra que comprei por acaso num dos mais
recentes passeios pelas livrarias. Há muito que tenho um fascínio particular
por Oscar Wilde. Tudo neste grande autor me interessou um pouco mais do que que
o habitual, até ter encontrado num alfarrabista um livro de contos onde fui
descobrir histórias da minha infância que atribuía erradamente à tradição
popular, ou pelo menos de quem não sabia a fonte. A partir daí, e já lá vão
alguns bons anos que tenho intensificado as minhas leituras da obra de Oscar
Wilde. Algumas das suas obras como O Retrato de Dorian Gray e o Leque de Lady
Windermere vão brevemente também aqui ser aconselhadas, até porque em anos
recentes vi no cinema um filme baseado nesta ultima que achei genial “A Good
Woman” de Mike Barker de 2004. Mas regressando ao livro desta semana. É uma
obra pequena, não chega às 100 páginas e nela estão dois dos ensaios mais
brilhantes de Wilde, “O Declinio da Mentira” diz-se até ser o seu escrito
favorito. É uma abordagem genial à arte e uma critica muito elegantemente
construída contra o realismo na arte e na literatura. Mais do que a mensagem e
a opinião, é sobretudo a forma como Oscar Wilde escreve, tornando simples
conceitos complexos, e fazendo das suas ideias um quadro absolutamente claro.
Não é por acaso que da obra de Oscar Wilde se extraem citações às centenas. “A
Alma do Homem e o Socialismo” é uma defesa de mestre da tese da abolição da
propriedade privada, da eliminação do governo, dos defeitos da democracia,
enfim, um ensaio que nos dá como pano de fundo o homem enquanto ser individual
(há uma brilhante passagem a defender a que a verdadeira essência do Homem só
se revela pela sua singularidade e pelo despojamento dos bens materiais). Será,
face a tudo o que conhecemos, e até porque mais de um século nos separa da sua
morte um exercício de escrita belo mas utópico. Mas não deixa de ser
absolutamente delicioso enquanto leitura. Para terminar, e porque é uma das
mais célebres “famous last words” de sempre, e que se lhe atribui, já em Paris,
no fim da sua vida muito longe da fama e da fortuna e adotando o nome de
Sebastian Melmoth, pede sem ter posses para isso uma ultima garrafa de
champanhe dizendo: “Estou a morrer acima das minhas possibilidades”. Génio até
ao fim. Não tenho mais a acrescentar. Vão ler. Boa Semana e… Boas Leituras! J
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
O Príncipe
da Neblina de Carlos Ruiz Zafón (Planeta)
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