VIVER PARA CONTÁ-LA de Gabriel Garcia Marquéz (Dom Quixote)


“Um homem de letras, que não escreve as suas memórias, tem realmente direito a que os outros lhas não escrevam” Eça de Queirós

Um dos géneros que provavelmente menos frequento, dentro das minhas leituras, é, por um qualquer motivo que ainda não consigo identificar, o das biografias. Em conversa com vários dos amigos que comigo partilham o gosto, e também sugestões de leitura, estes parecem ser um tipo de livros que tem de facto alguma simpatia no mercado. Partilhando de início a minha reserva pelo tipo de leitura, não lhe sou completamente estanque. Já tenho lido algumas. Do que tenho lido, prefiro a “subespécie” da autobiografia. Há como em todas as áreas da literatura sempre um intenso debate sobre a maior ou menor veracidade de tudo aquilo que se conta e da forma como se conta. Nada me parece mais normal do que o facto de a revisitação do passado ser feita com base em memórias que são muitas vezes representações mentais que não são rigorosamente o que de facto aconteceu. Continuo a não achar importante. Na literatura, e é bom que o diga desde já, que o livro desta semana é literatura. Não é um diário, ou um registo factual e documental da vida de Gabriel Garcia Márquez, mas sim um espantoso exercício de escrita. É um livro, e aqui gostava de, ao contrário do que afirmei na introdução desta crónica, de o retirar debaixo desse eventual rótulo de autobiografia. Pelo menos na minha opinião, é um excelente romance cujo pano de fundo, por acaso, é a vida recordada do autor. Quem como eu gosta, e muito da obra de Gabriel Garcia Márquez, tem aqui, não só excelentes pistas para muitos dos seus universos particulares de escrita, mas um sinal claro de que o realismo mágico é todo um ambiente que rodeou o autor desde cedo. Acompanhemos portanto Garcia Márquez numa viagem com a sua mãe à sua terra natal para proceder à venda da sua casa de família, para ficar a conhecer toda uma saga e uma galeria de personagens riquíssima, que, repito, por acaso são os parentes do autor. Livro interessantíssimo e, é redundante eu sei, excelentemente construído e escrito. Fundamental na, da e para a obra do autor. Boa semana e, … Melhores Leituras! J


Na Mesinha De Cabeceira:
REVER PORTUGAL de Jorge de Sena (Guimarães)
UM APARTAMENTO EM ATENAS de Glenway Wescott (Relógio d´Agua)
VIVER PARA CONTÁ-LA de Gabriel Garcia Marquez (Dom Quixote)
ATÉ AO FIM 1944-1945 de Ian Kershaw (D. Quixote)
OS COMBOIOS VÃO PARA O PURGATÓRIO de Hernán Rivera Letelier (Ulisseia)
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
A FABULA de William Faulkner (Casa das Letras)
AXILAS & OUTRAS HISTÓRIAS INDECOROSAS de Rubem Fonseca (Sextante Editora)
JOSÈ de Rubem Fonseca (Sextante Editora)


Comentários

C. disse…
Continuo a achar este livro "a obra-prima" de Gabo, o que não deixa de ser algo estranho se pensar no Universo contido nas páginas de "Cem Anos de Solidão". Há vidas que superam a ficção.
Lembro-me, quando o acabei, de pensar que terminar este livro não era necessariamente mau porque viriam mais 2- começo a pensar que, a estarem já escritos, só serão publicados depois da sua morte, ou até que não haverá continuação :/.

Boas leituras
Ricardo disse…
É verdade. Agora que me levou a pensar nisso, ou é este ou o "Cem Anos de Solidão".Não consigo eleger nenhum à primeira. Penso não ser só minha a impressão de que o universo vivido e contado por Gabo, tem muito do que se reflete no resto da obra, mas muito particularmente nos "Cem Anos..."
Obrigado pela visita
:)

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