AGOSTO de Rubem Fonseca (Sextante Editora)


“No meio de um povo geralmente corrupto a liberdade não pode durar muito” Edmund Burke

Há autores que se vão instalando em nós. Começamos quase sempre por indicação generosa de um amigo, como foi o caso de Rubem Fonseca, e depois, se o registo nos agradar, seguimos viagem sozinhos, rumo à obra de cada qual. Retiro desta já longa série de sugestões (e é só disso que se trata, de partilhar as minhas preferências) a ideia de que me vou conhecendo melhor enquanto leitor. Nunca teria feito uma análise tão longa sobre os géneros de que mais gosto, muito menos elaborado uma lista de onde posso com relativa facilidade retirar alguns autores dos quais me tornei seguidor. Há sempre o famoso factor de desempate na argumentação: o gosto pessoal. Que, ao contrário do que se diz, se deve, e de todas as maneiras discutir. Que os gostos não se discutem, é das afirmações mais destituídas de sentido que me recordo. De todas as formas, assim como quem ama só vê o belo, também eu, do que gosto, gosto muito. É mais do que provável que a isenção saia a perder nestas análises. Mas também nunca aqui se disse tal coisa, e muito menos se prometeu a universalidade do gosto. Sou portanto, altamente suspeito quando falo de autores de quem gosto. E é esta a única declaração de interesses que aqui interessa: Rubem Fonseca é um deles. Não quero com isto dizer que aprecio da mesma forma tudo o que escreve. Não. Mas de tudo o que escreve, e escreve em vários registos e géneros, consigo tirar enorme prazer em ler. Que é, verdadeiramente a razão, porque vou sugerindo estas leituras. Para partilhar o privilégio de aceder aos mundos particulares e a universos de infinito prazer que vou visitando. Mais por ter bons e bem informados amigos do que por mérito meu, é certo. Bem. Mas vai longa a conversa, e do livro nada, ou quase. É puro Rubem Fonseca. Romance que está numa encruzilhada onde se encontram o policial, o romance histórico e a crónica de costumes, onde não falta uma soberba descida ao mundo intriga palaciana. Tenho nos últimos tempos, por motivos que não cabem (de facto) aqui, viajado várias vezes até à época da ditadura no Brasil. Anos 50 e Getúlio Vargas sobretudo. Este livro é um portento na análise social e política do Brasil de então. Não deixando nunca de nos mostrar a História pelos homens, e de, com a facilidade aparente dos grandes, por lá encaixar uma galeria de excelentes personagens, que vão perseguindo o rasto de um crime até descobrirem não um ou vários culpados, mas o retrato vivo de uma época e de um País. A cada livro que vou lendo mais me agrada o que escreve Rubem Fonseca. Se não conhecem, tentem este. Vale mesmo a pena. Boa Semana e Boas Leituras!!!

Na Mesinha De Cabeceira:
ATÉ AO FIM 1944-1945 de Ian Kershaw (D. Quixote)
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
A FABULA de William Faulkner (Casa das Letras)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE  de Thomas Pynchon (Bertrand)
A DIVINA COMÉDIA de Dante Alighieri (Quetzal)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
UM HOMEM DE PARTES de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)


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