COMO É LINDA A PUTA DA VIDA de Miguel Esteves Cardoso (Porto Editora)
“O talento sozinho não consegue fazer um
escritor. Deve existir um homem por trás do livro” Ralph
Emerson
Já aqui pela “Estante” se sugeriu a leitura de Miguel Esteves Cardoso, e já
lá vai algum tempo. Em Dezembro de 2009 a crónica foi sobre o “Em Portugal não
se Come Mal”, livro, que classifiquei na altura como “delicioso”. Disse-o então
e repito-o agora, Miguel Esteves Cardoso é uma espécie de Deus das crónicas em
português. É até para mim, que me desminta quem melhor souber, um dos
principais responsáveis pela recuperação deste género com todos os seus
trabalhos para a imprensa a partir dos anos oitenta do século passado. (É
estranho que se tenha de assinalar que os anos oitenta, o que em si já é uma
categoria, sejam “do século passado” e não de sempre, mas enfim, é o que dá as
nossas referências não se poderem eternizar). Pois a verdade é que as crónicas
do Miguel Esteves Cardoso, estiveram sempre na primeira linha daquilo que de
melhor se escreveu sobre uma certa maneira de ser portuguesa. Desde as célebres
crónicas no Expresso: “A Causa das Coisas”, passando pelas incontornáveis “As
Minhas Aventuras na Republica Portuguesa”, que somos escrutinados pelos humores
muito particulares deste Senhor. As crónicas postas em livros, nem sempre
resultam em algo inteiramente uniforme. Não é fácil estar sempre ao mesmo nível
em tudo e sempre que se escreve. Mas, se pensarmos bem, isso está sempre a
acontecer. Nos livros que nem sempre todos os capítulos são bons, e não é por
isso que se aconselha a ler só esta ou aquela parte. Eu sou adepto confesso de
crónicas, e de entre elas, as do Miguel Esteves Cardoso são sempre, ou quase,
das melhores. Não me vou alongar muito sobre as que fazem o conjunto deste
livro. Nem me vou deixar levar pela tentação de escolher. Isso fica com cada
um. Só vos repito que valem a pena. Continuamos a ter em grande forma um dos
que melhor nos (d)escrevem, a todos, portugueses ou não. Há um capítulo que
avulta que é dedicado ao Amor (e ao medo da perda) e que é excelente. Numa
linha de análise que pode ser considerada injusta, há por todo o lado autores
profundamente portugueses, chatos, melancólicos, gongóricos e palavrosos, cuja
escrita cheira a Saudade e Fado e outras coisas mais ou menos previsíveis.
Depois há alguns, poucos, que são leves na profundidade do que nos explicam e
mostram. Que sabem desmontar o caracter e o atavismo portugueses. E que
escrevem muito bem. Este é um deles. Comprem e leiam que não se arrependem. Como
são lindas as putas das crónicas do Miguel…
Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE de Thomas
Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
UM HOMEM DE PARTES de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)
A LUZ É MAIS ANTIGA QUE O AMOR de Ricardo Menéndez Salmón (Assírio &
Alvim)
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