O ENREDO DA BOLSA E DA VIDA de Eduardo Mendoza (Sextante Editora)
“A minha única diferença em relação a um
homem louco é que eu não sou louco” Salvador Dalí
Eduardo Mendoza, já aqui anteriormente sugerido a propósito de “A Cidade
dos Prodígios” e “A Assombrosa Viagem de Pompónio Flato”, ganhou um estatuto
especial dentro das minhas preferências dos últimos anos. É provavelmente o
escritor com mais piada que tenho encontrado recentemente. A esse propósito
reforço aqui também o convite para que não percam a realmente assombrosa viagem
de Pompónio Flato que é um delírio de boa disposição. Neste “O Enredo da Bolsa
e da Vida”, aparentemente (porque não li ainda os demais) Eduardo Mendoza
retoma uma personagem absolutamente surreal, que é um investigador que tem uma
história de vida incrível. Saído de um manicómio, o que por si só já é
revelador do lado invulgar da trama mas sobretudo das personagens, o personagem
principal, ao qual nunca se dá nome, vai atravessar uma história em que
claramente é mais importante o caminho do que a meta. É absolutamente delicioso
ler todo um conjunto de personagens improváveis, observadas através de um olhar
mordaz e cáustico por vezes, mas com recurso a situações absolutamente
hilariantes. Sem antecipar demasiado para não matar ou diminuir o interesse,
podemos fazer sair dessa galeria a genial família de chineses que tem uma loja
defronte do salão de cabeleireira do personagem principal, e um trio de
ajudantes recrutado entre artistas de rua/pedintes que fazem das ruas de
Barcelona o seu mundo. Há uma busca por um amigo recém-desaparecido, um
terrorista internacional, e um sem número de cenas que, fazem com que cada
passo da acção seja em si mais interessante na sua singularidade do que a obra
no seu todo. Não sei se me faço entender por completo. Não sei até se o efeito
que esta obra teve em mim me faz ficar algo perplexo face ao que dela devo
relatar. Mas há algo que posso, isso sim afirmar sem enredos ou rodeios, é que
dei um bom par de gargalhadas em alto som com este livro. É inteligente, muito
bem escrito e, como muitas vezes aqui o tenho repetido, é um daqueles casos em
que como leitor não me importava nada que o autor tivesse escrito mais um par
de capítulos, pela pena que tive de o acabar. Se mais não houvesse, esse
sentimento de não querer terminar seria o melhor dos cartões-de-visita.
Aproveitem.
Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE de Thomas
Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)
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