HISTORIAS DE LOUCURA NORMAL de Charles Bukowski (Alfaguara)
“Louco
não é o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo
menos a razão” Gilbert
Chesterton
De
Bukowski quase tudo se pode dizer. Louco, visionário, poeta,
provocador, subversivo, excessivo, alcoólico, génio, ou todo um
mundo de contrários. Há, no entanto, uma caracteristica que marca
os autores que deixam culto, não admitem zonas cinzentas. Ou se
entra ou se fica à porta. E parece-me fácil de entender que assim
seja. A obra de Bukowski, apesar do cada vez maior consenso (que se
estabelece sempre com maior facilidade para além do homem e muito
mais para além da morte deste), é claramente singular. A
marginalidade do autor está em cada linha que escreve. O excesso, o
não se conter em barreira nenhuma, nem de forma e muito menos de
conteúdo, torna o que escreve muitas vezes em algo de profundamente
crú, brutal e mesmo demencial. Eu, e o facto de o sugerir
comprova-o, gosto. Gosto deste livro de contos e crónicas num
registo de raiva, desespero, por vezes de complacência, mas sem
nunca ceder a quaisquer compromisso. Neste textos, carregados de
excesso, de alcóol, de sexo, de desvios à norma, encontramos muitas
ideias muito elaboradas sobre a moral, a escrita e a vida. O
desencanto, o desnorte, o descaminho, a futilidade, a vaidade, é uma
profunda verdade que se sente numa escrita gutural, visceral, quase
sempre vizinha do excesso alcoólico mas simultaneamente e
paradoxalmente lúcida. Como todas as sugestões, esta é carregada
de parcialidade. Este e outros livros de Bukowski não são
claramente para todos os leitores. Nem a isso me atreveria na maior
parte das obras que por aqui vou indicando. Mas não se pode negar a
espantosa força de uma escrita como esta. Aliás, uma das melhores
coisas que destas histórias se retira é a posição do escritor
perante a obra, a sua e a dos outros. É um livro que conta vidas de
desencanto, que, apesar de tudo, nos mostra uma luminosidade intensa
a brotar dos sitios mais negros e escuros. Intenso. A escrita, a
bebida, o jogo e o sexo, são as linhas comuns a quase todo o livro,
com textos que vão de 1967 a 1983, em várias explosões de uma
força de escrever radical e extrema. Bukowski, e só.
Boa
Semana e Boas Leituras!!!
Na
Mesinha De Cabeceira:
MIRAGEM
DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS
DA GRAVIDADE de Thomas Pynchon (Bertrand)
A
CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
C
de Tom McCarthy (Editorial Presença)
TELEFÉRICO
DA PENHA (IMAGINÁRIO E REALIDADE) de Esser Jorge Silva (Edições
Húmus)
O
JOGO DO MUNDO de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
DIÁRIO
PARA ELIZA de Lawrence Sterne (Antígona)
A
RAPOSA AZUL de Sjon (Cavalo de Ferro)
À
MESA COM KAFKA de Mark Crick (Casa das Letras)
LISBOA
(A cidade vista de fora 1933-1974) de Neil Lochery (Editorial
Presença)
ESCREVO
PARA AJUSTAR CONTAS COM A IMPERFEIÇÃO de Ricardo Guimarães (Modo
de Ler)
FUGAS
de Alice Munro (Relógio D´Àgua)
DEIXA
LÁ e MÁS NOVAS de Edward St Aubyn (Sextante Editora)
LIBRA
de Don DeLillo (Sextante Editora)
CRÓNICAS
DO AUTOCARRO de Manuel Jorge Marmelo (Ed. Autor by Oporto Lobers)
RELATÓRIO
DO INTERIOR de Paul Auster (ASA)
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