O HOMEM QUE GOSTAVA DE CÃES de Leonardo Padura (Porto Editora)


"O Cão é a virtude que, não podendo fazer-se homem, se fez animal” Victor Hugo
 
Leonardo Padura é um autor que já há muito conhecia. Não neste registo de biografia romanceada mas no registo de autor de romances policiais. E dos bons, se me é permitido acrescentar. Li há cerca de uma dúzia de anos um dos romances que ele escreveu e onde pontifica o tenente Mário Conde, personagem que entrou directa para as minhas preferidas no género, “Morte em Havana”, livro que recomendo desde já, mesmo antes de sugerir o que hoje aqui se pretende. Voltando à sugestão semanal, é um grande livro “O Homem que gostava de cães” título assumidamente “repescado” de um conto de Raymond Chandler, dá-nos pela perspectiva de duas testemunhas indirectas, o retrato de Liev Davidovitch Bronstein, que passou à galeria de figuras históricas como Trótski, nos anos do seu exílio e consequente assassinato. Vemos também em paralelo, a vida do seu verdugo Ramón Mercader. Ao longo desta dualidade entre dois personagens em rota de colisão consigo próprios e com a História do Séc. XX, Leonardo Padura dá-nos numa tela de grande formato uma visão muito própria da implementação e crescimento do comunismo soviético pela mão sobretudo de Josef Estaline. É um livro que não nega as opiniões do autor sobre o assunto, a forma como desenha o carácter das personagens é bastante clara a esse respeito. Não assume uma visão distanciada e asséptica do fenómeno, pelo contrário, interpreta-o, na sua visão de autor através das personagens e tem uma postura claramente critica do processo. Não me cumpre a mim, mero leitor e neste menos ainda no papel de quem sugere leituras, tomar partido, até porque a opinião neste caso pode sempre ser enformada de preconceito ideológico. O que sim vale a pena, é que seja cada um de nós a fazê-lo depois de ler este livro, que para além do conteúdo histórico e do valor informativo, é sobretudo muito muito bem escrito. São 614 páginas (excetuando a Nota Final do autor) que se devoram. Tinha, redutoramente catalogado, na minha categorização mental Leonardo Padura como um fantástico autor de policiais. Agora passou para outro compartimento onde a minha visão sobre o que escreve não está tão espartilhada. Mais uma vez, é com enorme gosto que agradeço esta sugestão de leitura ( e o empréstimo do livro… ) ao meu bom Amigo Miguel Bastos que tem sido e continuará certamente a ser uma das fontes das minhas melhores leituras. Não percam. Boa Semana e  Boas Leituras! J

Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo (Quetzal)
O Ano do Dilúvio de Margaret Atwood (Bertrand)

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