A PRIMAVERA HÁ-DE CHEGAR, BANDINI de John Fante (AHAB)

“Só uma raiva, no entanto, é bendita: a dos que precisam” Clarice Lispector

De John Fante ainda não tinha lido nada. Para além de muito boas referências, de entre as quais as de Bukowski, que de Fante dizia ser este o “seu Deus”, estava apenas curioso. E foi na Feira do Livro Independente, que, entre muitas outras fantásticas obras que essa magnifica iniciativa proporcionou, que me deixei tentar. Fui, desta vez pelo início, este livro, de 1938, integra um conjunto denominado “O Quarteto Bandini”, que cruza a inteira obra de John Fante. Não sei o que as leituras de Fante que se lhe seguirão me reservam, sim, porque depois de ler, este não fico minimamente satisfeito, preciso de mais. A história, que por coincidência tem, em alguns aspetos, traços de alguma similitude com a de “Augie March” aqui sugerida na semana passada, é no entanto marca de um autor que tem um traço muito próprio e singular. A história da família Bandini, um casal com três filhos rapazes, é-nos contada de uma forma muito vivida. Quase sempre vertendo os próprios pensamentos e sentimentos dos personagens no decorrer da própria ação, John Fante, constrói uma realidade tangível e que vai em profundidade ao coração da América da Grande Depressão e do retrato de uma família de italo-americanos pobres nesse ambiente. O filho mais velho, Arturo Bandini, esse a quem a Primavera tarda em chegar, mais do que as outras personagens (note-se que apenas os irmãos mais novos são aparentemente menos importantes), oferece a imagem do adolescente que vive num turbilhão de dúvidas e ilusões, de euforias e grandes raivas, de fantasia e realidade, e sempre, como em toda a obra se nota aliás, com o peso omnipresente da culpa católica. O livro lê-se com muita rapidez, a escrita é fluida e o argumento não complica. Mas, como acontece por vezes, e neste aconteceu, damos conta depois do último virar de página que não só nos deixa algo de diferente, como nos dá a certeza que se este foi um primeiro romance, Fante é de facto um grande, enorme, escritor. O Inverno privado dos Bandini, aqui magistralmente (d)escrito, e a Primavera que tarda em chegar, seja para o “baseball” de Arturo ou para Svevo, o pai, mais facilmente conseguir trabalho que sustente a família, é uma viagem a uma dura e fria realidade, que teima em ficar em nós. Prosseguirei pois rumo a novos Bandini, com a esperança de o fazer ainda, muito antes que chegue a próxima Primavera. Boas Leituras!!!

Na Mesinha De Cabeceira:

MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE  de Thomas Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)
O JOGO DO MUNDO de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro)
DIÁRIO PARA ELIZA de Lawrence Sterne (Antígona)
A RAPOSA AZUL de Sjón (Cavalo de Ferro)



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