ESTAÇÃO CARANDIRU de Drauzio Varella (Palavra)

“Nenhum poder humano consegue forçar o impenetrável reduto da liberdade de um coração” FRANÇOIS FÉNELON

Agora que resolvi falar deste livro, não encontro uma boa justificação para o tempo que decorreu entre a sua leitura e esta sugestão. Acontece em muitas alturas, e esta é uma delas, em que tenho muitos mais livros para ler do que tempo para fazê-lo, e isso tem o seu preço. Pelo menos no que a esta “estante” diz respeito, lá tenho que ir buscar sugestões de leituras mais ou menos anteriores. Esta, valha a verdade, apesar de a obra ser de 1999, no original do Brasil e ter sido publicada entre nós em 2005, só a li no ano passado, em 2010. E, manda também que se agradeça a quem ofereceu, o meu bom amigo Pedro Malaquias, a quem tenho que “tirar o chapéu” pela oferta e sugestão. É um livro que vale a pena, o seu autor Drauzio Varella, médico de carreira, conta-nos num registo directo e sem recurso a artificios literários um conjunto de histórias que fazem o quotidiano daquela que foi a maior prisão (ou presídio, no falar local) da América Latina. Um mundo dentro do mundo. Repleto de histórias que valem a pena ser lidas. Um manancial de vidas com um elo em comum, a cadeia. Contado num tom sereno, coloquial, com um ponto de vista sempre focado no factor humano, e sem nunca emitir qualquer juizo de valores, quer relativamente a protagonistas, quer mesmo ao sistema. Uma descrição de muitas e profundas descidas aos abismos da degradação humana, da violência do desumano e, paradoxalmente aí, encontamos por vezes a verdadeira grandeza do nosso semelhante. Drauzio Varella, que escreve este livro depois de fazer um trabalho de anos em voluntariado no Carandiru em prol da prevenção da SIDA entre os reclusos, colhe com sabedoria e humanidade algumas histórias de vida que nos impressionam. É um livro de leitura fácil, lê-se como quem ouve um amigo a contar as peripécias da profissão, entre episódios de humor e outros que nos inquietam e provocam. Num universo de cerca de 8000 detidos, o autor, ao longo dos anos e pela convivência, nas suas próprias palavras fez: “...amizades verdadeiras, aprendi medicina e muitas outras coisas...penetrei nos mistérios do cárcere, inacessíveis se eu não fosse médico”. Vamos pois acompanhar nesta obra, muito do que não se conhece da vida dos que por uma ou outra razão forma privados de liberdade, numa lógica social muito própria ditada por um “código penal não escrito”, conhecer as suas leis e principios de sobrevivência num universo que tem tanto de violento como de profundamente humano. É um daqueles livros raros em que nos sentimos a mergulhar num voo sem regresso ao mais intimo da condição humana. Não percam, como se diz numa das frases de promoção ao livro “Carandiru é uma bofetada violenta à indiferença e à passividade”. Não podia estar mais de acordo. Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

O Assédio de Arturo Perez Reverte (Asa)

A Conspiração Contra a América de Philip Roth (Dom Quixote)

A Casa Verde de Mario Vargas Llosa (Dom Quixote)

Suite Francesa de Irene Nemirovsky (Dom Quixote)

Comentários

Cultura disse…
POR UMA CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA DOS CIDADÃOS

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Guimarães
Senhor Presidente do Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães

No dia 29 de Março de 2011, o Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães tornou pública uma moção em que notou ser “indispensável criar condições para relançar a confiança e o entusiasmo em torno do projecto, de forma a garantir a adesão e apoio da comunidade vimaranense à Capital Europeia da Cultura 2012” e recomendou “ao Conselho de Administração que promova uma reflexão estratégica com vista a adoptar práticas que permitam uma ligação reforçada entre a CEC2012 e os agentes culturais, económicos e sociais de Guimarães e da região”.

Esta tomada de posição foi entendida pelos cidadãos signatários como um claro sinal de esperança de que ainda seria possível uma Capital Europeia da Cultura que envolva os cidadãos de Guimarães e promova uma imagem positiva da cidade.

No entanto, assim não o entendeu o principal destinatário da recomendação, o Conselho de Administração da FCG. Nos dois meses que entretanto decorreram, aprofundou-se o afastamento entre a entidade organizadora da CEC e os cidadãos e agentes culturais, económicos e sociais de Guimarães.

Com o recente afastamento do Director de Projecto, a estrutura da FCG ficou amputada do único elemento que funcionava como elo de ligação entre as diferentes áreas de programação. As sucessivas declarações, por parte do CA, de que a saída do Director do Projecto não acarreta um acréscimo de dificuldades, põem a claro um manifesto défice de percepção da realidade.

Os cidadãos de Guimarães já deram mostras de que, quando mobilizados, são capazes de dar respostas positivas e entusiásticas a situações adversas. A mobilização ainda é possível. Não será fácil recuperar o tempo perdido, mas ainda se irá a tempo de construir uma Capital Europeia da Cultura que dignifique Guimarães e Portugal.

Os signatários não se resignam a vir a ser os que tiveram nas mãos uma oportunidade única e a desperdiçaram. Convictos de que o divórcio entre o actual Conselho de Administração da FCG e os cidadãos de Guimarães é irreversível e nocivo para o sucesso da Capital Europeia da Cultura, apelam ao Presidente da Câmara Municipal de Guimarães e ao Presidente do Conselho Geral da FCG para que usem os meios ao seu alcance para que se encontre uma solução que infunda uma nova esperança neste projecto, dotando-o de novos protagonistas, que se identifiquem com Guimarães e que introduzam uma dinâmica no processo que possa suscitar o reforço do entusiasmo, da vitalidade e da energia dos vimaranenses.
Se concorda com este apelo público, assine o abaixo assinado POR UMA CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA DOS CIDADÃOS em www.peticaopublica.com
Dalaila disse…
e eu fiquei detida nas tuas palavras

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