A CONSPIRAÇÃO CONTRA A AMÉRICA de Philip Roth (Dom Quixote)
“O real serve-nos para fabricar melhor ou pior um pouco de ideal” ANATOLE FRANCE
No decurso das minhas leituras criei um hábito (que decerto muitos partilharão) que é o de, uma vez citado um outro livro, num dos livros que esteja a ler, ficar com essa referência para uma “lista virtual de leituras futuras”. Assim como estou sempre a pedir a amigos e conhecidos que partilhem gostos e novidades literárias comigo, também estou atento ao que os próprios autores e suas personagens vão sugerindo dentro das suas próprias narrativas. E o caso é que, de uns para outros livros, assim como as cerejas, que vem umas atras das outras, tenho vindo a ler obras e autores por sugestão dos próprios livros que leio. Tenho imensos casos a exemplificar esse facto e já aqui nestas sugestões de leitura o tenho referido. Assim, e só para citar dois, vim a ler João Ubaldo Ribeiro por sugestão de José Rentes de Carvalho, como cheguei a Philip Roth atraves de Woody Allen. Tudo menos improvável. Como não há aqui espaço para dar os detalhes necessários a este “puxar do novelo” (ou novela), fico-me pelo que aqui se me pede e passo a sugerir “A Conspiração Contra a América” de Philip Roth. Este livro, excelente, para inicio de conversa, faz parte daquele número de romances que conta com um ponto de partida histórico mas com um resultado divergente daquele que conhecemos. Abundam os exemplos de obras que romanceiam com recurso a um revisionismo literário, realidades já estabelecidas. Dentro da temática que Roth elegeu para esta obra há um factor central, a não reeleição de Franklin Delano Roosevelt para um terceiro mandato presidencial nos EUA, por derrota contra Charles Lindbergh, o famoso aviador (aqui apresentado numa visão que enfoca particularmente o seu anti-semitismo), o que determinaria a não entrada dos EUA na II Guerra Mundial, e com todas as consequências que daí podemos adivinhar e o efeito deste facto no quotidiano de uma familia judia de Newark. Neste caso, uma narrativa contada na primeira pessoa, em registo de quase diário, feita em discurso directo pelo próprio Philip Roth com nove anos, no seio da sua própria familia. O livro, que cobre um hipotético periodo imaginário do governo de Lindbergh entre 1940 e 1942, é de tal modo preciso e detalhado, que, damos por nós a páginas tantas a ter de verificar a história oficial para não sentirmos que estamos de facto perante um relato verdadeiro. E o desenlace é absolutamente brilhante, retomando a História o seu curso normal e conhecido, como se todo o relato fosse completemente verdadeiro e coerente. É uma obra genial, de um dos mais brilhantes escritores que tenho tido o prazer de ler. Não percam, sob nenhum pretexto. Boas Leituras (e Férias se for o caso...)!
Na Mesinha De Cabeceira:
A Casa Verde de Mario Vargas Llosa (Dom Quixote)
Suite Francesa de Irene Nemirovsky (Dom Quixote)
Eu sou a Charlotte Simmons de Tom Wolfe (Dom Quixote)
Comentários
Depois do seu comentário sou capaz de apressar a lê-lo.
abraço
silenciosquefalam.blogspot.com
Vale a pena. P.Roth, tornou-se um dos meu autores favoritos. Obrigado pela visita. Abraço