EU SOU A CHARLOTTE SIMMONS de TOM WOLFE (Dom Quixote)
"Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado." ALBERT CAMUS
Tom Wolfe é, na minha singela opinião, um dos maiores e melhores cronistas de costumes americanos contemporâneos. Já dele aqui se falou, em anterior sugestão, apropósito do seu talvez mais conhecido livro “A Fogueira das Vaidades” de 1987. Já aí, descreve e caracteriza com uma argúcia fora de série o ambiente “yuppie” dos anos 80, tornando essa obra como um dos referenciais do traçar o retrato a um certo tipo de sociedade que norteia a sua existência pelo mais desenfreado materialismo. Há que juntar a tudo o que Tom Wolfe nos conta uma boa dose de cinismo e um tom irónico ao qual nunca fiquei imune. Mas é sobretudo a visão pelo interior das causas e das coisas que mais me impressiona neste autor. Este livro “Eu sou a Charlotte Simmons”, de 2004 e lido agora, é um exemplo perfeito da capacidade literária e de crónica de costumes de Wolfe. É a sua terceira obra de ficção (aqui falarei em futura oportunidade de “Um Homem em Cheio” de 1998, que também já li), e versa, do universo universitário (passe a aliteração...) norte americano neste inicio de milénio. Oferece-nos uma visão completa de todo o ambiente do “campus” da Universidade de Dupont, a partir da vivência de Charlotte Simmons, uma jovem de uma pequena cidade, cheia de expectativas e sonhos, face à realidade, por vezes brutal desse rito de passagem que é a vida académica. A esse propósito nada falta neste romance, há uma galeria de personagens que nos completam o fresco de uma juventude inquieta e desnorteada, guiada por valores e ideais errados, (ou pelo menos ainda mal-formados) e, para um autor já octogenário, Tom Wolfe demonstra uma proximidade àquilo que é a vida dos jovens de hoje, só alcance de um escritor muito especial. Acresce que, e é um dos factores que a mim pessoalmente me agrada mais neste género de obras, que não vemos nunca, ou pelo menos muito raramente, nenhum juízo moral ou ético relativo à forma como as personagens se comportam. Deixa-nos inteligentemente a nós a tarefa de extrairmos conclusões. Se é que as há, bem entendido. Tom Wolfe é um nome marcante do jornalismo americano, desde o Washington Post à revista Esquire, passando pelo New York Herald Tribune, onde firmou o seu cunho de brilhante cronista social e de costumes. E isso nota-se e de que maneira na forma como constrói as personagens, quase sempre de fora para dentro. Deixo uma sugestão agregada a esta, por se tratar de um excelente livro de crónicas, que é o “Hooking Up: Um Mundo Americano” de 2000, da Dom Quixote, onde se pode verificar num registo de “short stories” toda a capacidade de provocar, ironizar, satirizar e no fundo nos dar uma ideia mais clara do que é a América, segundo Tom Wolfe, no ano 2000. Poderei, como sempre, ser altamente parcial no meu julgamento e sugestão, a respeito de mais um dos meus autores predilectos. Mas como tenho, felizmente, a prerrogativa de só falar do que gosto, é assim que o sei fazer. Recomendo com gosto. Boas Leituras (e Férias se for o caso...)!
Na Mesinha De Cabeceira:
A Casa Verde de Mario Vargas Llosa (Dom Quixote)
Suite Francesa de Irene Nemirovsky (Dom Quixote)
A Anatomia do Segredo de Leslie Silbert (Ed. Fio da Navalha)
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