A LEBRE DE OLHOS DE ÂMBAR de Edmund de Waal (Sextante)
“Os bens que mais nascem do ânimo que da
fortuna, melhor se asseguram, porque aqueles guardam-se no peito, e estes
cansam os ombros” Pde. António Vieira
Provavelmente um dos
melhores livros que terei o privilégio de ler em 2013. Uma obra espantosa e
maravilhosa. Um daqueles raros livros que junta um propósito particular de um
autor a uma história que se transforma numa epopeia familiar que transcende
claramente a mera investigação sobre o seu próprio passado. Edmund de Waal, autor
deste livro único e deste único livro, é um ceramista britânico que recebe por
herança um conjunto de miniaturas japonesas conhecidas como netsuke, de um tio-avô. Tendo por ponto
de partida o percurso dessas peças carregadas de significados no seu périplo
entre o Japão e a Europa, Edmund de Waal traça também o percurso dos seus
antepassados, uma poderosa família judaica de origem Russa que estende o seu
império financeiro por toda a Europa no final do Séc. XIX e primeiro terço do
Séc. XX, os Ephrussi, que chegaram a controlar todo o comércio mundial de
cereais, antes de se estabelecerem em Paris, Viena, Londres e Odessa como
banqueiros. Numa viagem absolutamente deliciosa e só ao alcance de um enorme
escritor, ultrapassamos com uma rapidez estonteante aquilo que poderia ser mais
uma tentativa de recuperar memórias familiares para fruição particular do
autor, para um registo da vida dos seus mais emblemáticos antepassados que nos
transmite uma sensação de profundidade e de perspectiva histórica muito difícil
de conseguir. Este livro, que ganhou o Costa Award na Categoria de Biografia,
é, para mim, muito mais do que esse rótulo que se me afigura neste caso
absoluta e imerecidamente redutor, um extraordinário romance em que, só por casualidade,
as personagens existiram de facto. Vinha amplamente recomendado, é certo, (só a
indicação de José Rentes de Carvalho para mim bastaria) mas, apesar dissol, é
sempre difícil que todos os livros que nos recomendam se mantenham ao nível das
expectativas criadas. Também tenho a certeza que assim acontece com o que aqui
vou periodicamente indicando, e que não poucas vezes os meus gostos não se
reflectem nos de outros leitores, mas é essa também uma das grandes riquezas
dos livros, o seu efeito absolutamente ad
hominem. É um daqueles livros que se acaba com tristeza, daqueles que, de
tão bem escritos gostaríamos de poder continuar a ler sempre um pouco mais.
Excelente, não percam. Boas Leituras!!! J
Na Mesinha De Cabeceira:
PENA CAPITAL de Robert
Wilson (D. Quixote)
ATÉ AO FIM 1944-1945 de
Ian Kershaw (D. Quixote)
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA
DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
A FABULA de William
Faulkner (Casa das Letras)
A PIADA INFINITA de David
Foster Wallace (Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE de Thomas Pynchon (Bertrand)
PELA ESTRADA FORA (O ROLO
ORIGINAL) de Jack Kerouac (Relógio d´Água)
SE OS MORTOS NÃO
RESSUSCITAM de Philip Kerr (Porto Editora)
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