A POLAQUINHA de Dalton Trevisan (Relógio D´Água)
“O estilo é uma maneira muito simples de
dizer coisas complicadas” Jean Cocteau
O acto de ler, sobretudo para quem não se imagina privado dele, vai
rendendo algumas mais-valias. Dalton Trevisan, agora editado entre nós pela
Relógio D´Àgua, já estava na minha lista de interesses desde que numa das
leituras que fiz do blogue de José Rentes de Carvalho aí tinha sido
referenciado. O Prémio Camões em 2012, não fez mais do que aumentar esse meu
declarado interesse. E provavelmente acelerou a sua publicação. Sim, que isto
de editar anda muito pendurado em galardões. Demasiadamente até, se me é
permitido opinar. Neste caso particular, a fama de Trevisan e a sua
especialidade é o conto. Foi esse o género que o tornou uma referência e é até
do título de um dos seus livros “O Vampiro de Curitiba” que se retirou a
alcunha pela qual é conhecido, dada a sua extrema recusa em aparições públicas
de qualquer género. E, por paradoxal que possa parecer, a um contista de renome
e eleição, começo-lhe a obra pelo único romance que tem publicado, este “A
Polaquinha” de 1985. É mais uma vez de relevo o facto de que Dalton Trevisan
tem neste momento 88 anos, o que me está a transformar, na média dos autores
que vou elegendo ultimamente, numa espécie de seguidor da obra literária de
gente com bastante idade. “A Polaquinha” é uma obra surpreendente. E é uma
porta de entrada excelente para o resto da obra, que diga-se já, não me vai
escapar. É a história da vida íntima de uma mulher, num percurso habitado por
vários homens e pela descrição da evolução da sua vida sexual até a um final
absolutamente genial. Do melhor que Trevisan nos oferece são os diálogos.
Absolutamente no tom e no ritmo certo para cada um dos confrontos destas
personagens, Uma linguagem clara, dolorosamente simples e um registo que é no
minino hipnótico. Não se consegue, de forma nenhuma abandonar o livro até ao
seu final. Não é meu hábito estabelecer comparações nem aqui fazer qualquer
espécie de tabela de classificação do que vou lendo. Continuarei na base da
sugestão baseada no meu gosto pessoal. Partindo dessa base absolutamente
individual e solitária, que é no fundo a magia que a leitura em nós provoca,
posso afiançar que foi um dos livros que mais prazer me deu ler nos últimos
tempos. Poderá ser demasiado explicito para uns, mas para mim é o necessário
para que vá já fazendo a lista de compras de resto da obra. Sem mais. Boa
Semana e Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
MIRAGEM DE AMOR COM BANDA DE MUSICA de Hernán Rivera Letelier(Quetzal)
ARCO-IRIS DA GRAVIDADE de Thomas
Pynchon (Bertrand)
A CONSCIÊNCIA E O ROMANCE de David Lodge (ASA)
UM HOMEM DE PARTES de David Lodge (ASA)
C de Tom McCarthy (Editorial Presença)
A QUESTÃO FINKLER de Howard Jacobson (Porto Editora)
COMO É LINDA A PUTA DA VIDA de Miguel Esteves Cardoso (Porto Editora)
A LUZ É MAIS ANTIGA QUE O AMOR de Ricardo Menéndez Salmón (Assírio &
Alvim)
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