A ROMANA de Alberto Moravia (Ulisseia
"Fragilidade, o teu nome é mulher!” WILLIAM SHAKESPEARE
Suponho que há alturas em que desejamos ardentemente um “livro de férias”, uma estória descontraída, leve, com frescura, que não nos faça pensar muito em muitas coisas. Ou, ao contrário, que nos faça pensar em céus mais azuis e climas mais quentes. Fruto do Inverno, certamente. Até porque quem lê sem prazer, não lê realmente, obriga-se a qualquer outra coisa. Opiniões minhas, claro. Isto para dizer que este não é um “livro de férias” (também, não é suposto que seja). Alberto Moravia, um dos grandes escritores italianos do Sec XX, acreditava, e praticava uma mistura entre literatura e vivência politico-social. Foi, até ao fim, uma das referências da esquerda italiana, e, por vezes, temos a sensação de que a esquerda é mais dura consigo própria, naquilo que se propõe viver e, neste particular, escrever. Este livro “A Romana” é um exemplo do que Moravia sente relativamente à realidade do seu tempo. É um retrato muito próximo e crítico de uma certa Itália do pós-Guerra, que, como todos os bons retratos, se perpetua no tempo e podemos, em pinceladas largas, adaptar aos nossos dias. Há nesta “Romana”, Adriana, um princípio de bondade e pureza, aliada ao Belo, que se vai perdendo. Uma progressiva corrupção da “alma”, que a caracterização das personagens, neo-real, cimenta. A descrição das atmosferas, o facto (absolutamente essencial para todos os efeitos, literários e não só) de este livro ser narrado na primeira pessoa e o principal personagem ser feminino, cria uma certa Trindade, entre Mãe, Filha e os Homens. A saída de uma “pobreza honesta” para um mundo onde o poder é entregue à Beleza da Mulher, e a constatação de que a vida de Adriana está determinada pelas formas do corpo (enquanto modelo de pintura primeiro, e depois como um meio para atingir fins), atira-nos para um cenário de profunda desilusão. Até para a semana e Boas Leituras!
PARA A SEMANA: A ESSÊNCIA DO MAL de Sebastian Faulks (Writing as Ian Fleming)
NA MESINHA DE CABECEIRA:
Continuam:
NO CORAÇÃO DE ÁFRICA de William Boyd (Casa das Letras)
A MULHER CERTA de Sándor Márai (D. Quixote)
CITAÇÕES E PENSAMENTOS DE FERNANDO PESSOA de Paulo Neves da Silva (Casa das Letras)
BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA de Pablo de Jevenois (Esquilo)
O MONTE DOS VENDAVAIS de Emily Bronte
A ESTIRPE de Chuck Hogan e Guillermo del Toro
OS ANAGRAMAS DE VARSÓVIA de Richard Zimmler
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