MARINA de Carlos Ruíz Záfon (Planeta)

“As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros” OSCAR WILDE

Conforme prometi, comecei a “dar caça” aos titulos de Carlos Ruíz Zafón. Este “Marina”, agora editado entre nós pela Planeta, é no entanto, anterior cronológicamente na obra do autor ao seu grande sucesso, e objecto de sugestão aqui na “Estante”há apenas três edições atrás. O autor destaca este livro como o seu favorito, e bem sei, que de entre os “filhos” alguns haverá que por um motivo ou outro ou numa altura ou outra nos são ou parecem mais chegados. A minha opinião não vai no sentido de estabelecer se “Marina” é melhor que a Sombra do Vento” ou de outra das obras do autor. Vai mais no sentido da confirmação. Uma confirmação positiva de um grande nome no panorama literário contemporâneo. “Marina” confirma tudo que tinha lido e sentido com a “Sombra do Vento”. Há sempre estórias dentro de estórias, e neste, há três estórias de amor e morte, e sobretudo a estórias de Óscar e Marina, que se divide em dois andamentos, a sua própria estória e a “aventura” que nos vão desvendando com a investigação que desenvolvem ambos. Voltamos a uma Barcelona de fantasia, a personagens e cenários, macabros, góticos, tétricos e fantasmagóricos por vezes. Com as habituais descrições de ruas, becos, edificios fantásticos e uma descida à cidade sobre a cidade. Há um vilão que é também uma vitima ( o que reocorre em A Sombra do Vento), e há sobretudo um cenário de génio, há também uma espécie de “génio do mal” em versão gótica, um pequeno exercito de criaturas semi-humanas, mutantes perversos resultado de um exercicio de “médico louco”, mas há sobretudo um fio condutor absolutamente electrizante que percorre toda a obra. Há sobre toda a obra um timbre indissociável deste autor, que desce às mais negras profundezes da alma humana com a mesma facilidade com que exalta as virtudes e a pureza do género. É magistral. Dá-nos imagens de amores profundos e paixões absolutas, umas negras e trágicas, outras de uma inocência e suavidade tal que impressiona. Dá-nos também misturas de sensibilidade e horror, do macabro com o terno e oferece-nos um final arrepiantemente triste, mas profundamente humano.Carlos Ruíz Zafón, é um daqueles autores, e é o maior elogio que um leitor pode fazer, que nos deixa absolutamente vazio ao terminar os seus romances. Vazio, no sentido de nos ter roubado algo de intangível, ou se quisermos ser mais concretos, de nos ter roubado com o fim do livro o prazer de o continuar a ler. É raro. Aconselho vivamente. Boas leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:

Vício Intrínseco de Thomas Pynchon (Bertrand)

As Benevolentes de Jonathan Litell (D. QUIXOTE)

Peregrinação de Enmanuel Jhesus de Pedro Rosa Mendes (d. Quixote)

Comentários

Manuel disse…
Caro Ricardo

Está visto que terá agora que ler "o Jogo do Anjo", completamente na linha dos dois anteriores, que já referiu.

É um romance onde Zafón volta a evidenciar uma escrita de uma delicadeza inconfundível.

Depois de ler este, só lhe restará uma hipótese, que é ir a Barcelona viver os locais e os ambientes descritos nestas istórias
Ricardo disse…
Caro Manuel,

Parece-me bem que sim, que estou irremediavelmente "condenado" a seguir tudo o que Zafón escreve. Fiquei mesmo "cliente".

Há um livro interessante sobre isso: "Guia da Barcelona de Carlos Ruíz Zafón",de Sergi Doria editado cá pela Planeta. Deve ser um bom apoio para uma viagem de descoberta.

Um dia vou, conheço mal Barcelona, só lá estive em trabalho.

Obrigado pela visita!

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