AS DESVENTURAS DO SR. PINFOLD de Evelyn Waugh (Relógio d´Água)


"Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem” SAMUEL BECKETT
É, confesso, a primeira leitura que faço de Evelyn Waugh. Facto que merecerá provavelmente alguma censura, sabendo-se que Waugh é autor de, entre outras obras “Reviver o Passado em Bridshead”, e um dos grandes romancistas e polemistas britânicos do Séc. XX. Este livro apesar de ser um pouco controverso relativamente à totalidade da obra de Waugh e ser por alguns tido como um produto relativamente menor no todo da obra, não deixa de não ser um excelente ponto de partida. Mantendo a fidelidade aos propósitos desta coluna de sugestões de leitura, não trago aqui nada que não me tenha dado prazer em ler. Com este livro não foi diferente. O inicio é absolutamente cativante com o "retrato do artista na meia idade", uma viagem a um universo interior de Gilbert Pinfold, o protagonista que é simultaneamente um alter ego de Waugh. A história tem uma origem assumidamente autobiografica. Reproduz uma das fases da vida de Evelyn Waugh em que este, afundado em consumos excessivos de fenobarbitol e alcoól, a conselho do seu médico particular e psiquiatra passa para texto as experiências que essas adições lhe provocam. É um compêndio de alucinações, que resultam de uma situação de quase esgotamento nervoso por que passa o autor. O livro e a personagem, Gilbert Pinfold, dão-nos com a clareza possivel a atmosfera do que é a perturbação, a confusão e o relativo desvario mental. A forma como está contada a história, todas as personagens que envolvem Pinfold e a “viagem” em que este se envolve dão a exacta medida de quão facil nos é perdermo-nos dentro de nós. Gilbert Pinfold reproduz a bordo do SS Caliban, um paquete que ruma a Ceilão (Sri Lanka) a viagem que o autor anteriormente realizou e onde se sucedem as “desventuras” que dão o titulo à narrativa. As sucessivas apariçoes de vozes, supostamente com origem num sistema de comunicações “fantasma” e de onde, aliás, surgem as personagens mais interessantes porque são fruto de um processo mental em desintoxicação. É um bom livro, que se lê com muito agrado e de forma muito rápida. Dá uma boa ideia daquilo que Waugh nos pode oferecer no resto da obra. O que, a seu tempo farei e aqui, se for o caso darei devida conta.Boas Leituras!

Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Ferrugem Americana de Philipp Meyer (Bertrand)
O Ladrão que Estudava Espinosa de Lawrence Block (Cotovia)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
O Escrivão Público de Tahar Ben Jelloun (Cavalo de Ferro)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo (Quetzal)
Porno Popeia de Reinaldo Moraes (Quetzal)

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