EXODUS de Leon Uris
"Os factos são sonoros. O que importa
são os silêncios por trás deles.” Clarisse Lispector
Nem sempre os livros de que me lembro para recomendar são
os mais recentes. Este é um caso que configura algo de especial e que, poucas
vezes me aconteceu. Muito menos vezes com romances de cerca de 600 páginas como
este. Foi o primeiro livro de que tenho memória de ter livro do princípio ao
fim sem interrupções. Comecei-o numa noite pelas vinte e duas horas e acabei já
com o sol nascido perto das sete da manhã. Se melhor cartão-de-visita houvesse.
Foi dos primeiros encontros que tive com uma forma de escrita absolutamente
viciante. Leon Uris, o autor faz a história da criação do estado de Israel com
recurso ao cruzamento de uma série de histórias individuais. O nome “Exodus”
foi retirado de um navio de imigração de judeus com destino à palestina em
1947. Há inclusive um filme de 1960 que teve origem nesta obra, para quem se
lembra, protagonizado por Paul Newman. Parece-me que no acto de ler há factores
que determinam o interesse e a dedicação que se pode por relativamente a todas
as obras. Há quem, por princípio ou por educação de gosto se detenha mais em
autores e obras mais densas, menos fáceis, de segundas e terceiras leituras.
Obras com camadas que se vão descobrindo, o que determina quase sempre um
abrandamento da velocidade de leitura. Há outras que nos fazem acelerar e
consumir o que o autor nos oferece com um ritmo que a partir de determinada
altura deixamos de controlar. Não há muitos casos desses, ou melhor dito, fora
de determinado registo de literatura mais ligeira, por assim dizer, é difícil
conseguir fazer com que um leitor vagamente experiente se deixe conduzir à
velocidade que a leitura determina. Este é para mim um caso paradigmático e
exemplar de como um bom escritor, com uma boa história ( e esta é de certeza
uma das melhores, a génese de uma nação) nos consegue por a ler com uma vontade
e um “vício” tal que só conseguimos parar por razões físicas. É um livro que,
por motivos que todos reconhecemos não deixa de ser actual e é de certa forma
explicativo de muito do que ainda configura um conflito que nos habituamos a
aceitar que não tenha fim à vista. É das sugestões que considero absolutamente
seguras. Boas Leituras!
Na Mesinha De Cabeceira:
Kyoto de Yasunary Kawabata (Dom Quixote)
Ferrugem Americana de Philipp Meyer (Bertrand)
Rever Portugal de Jorge de Sena (Guimarães)
O Escrivão Público de Tahar Ben Jelloun (Cavalo de Ferro)
Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo
(Quetzal)
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