EM PORTUGAL NÃO SE COME MAL de Miguel Esteves Cardoso (Assírio & Alvim)

“Não importa quantos livros temos, importa o quão bons eles são” Séneca



Para ser absolutamente claro desde o início, deixem-me começar por dizer que, para mim, o Miguel Esteves Cardoso é uma espécie de Deus das crónicas. Desde a “Causa das Coisas” que o acompanho, com maior ou menor assiduidade, até aos dias de hoje, onde, de facto com menor frequência vou lendo o que publica na revista GQ, mas valha a verdade, não é pelo facto de estar a escrever menos bem, é o tema que não me parece grande coisa. É algo como: “A história de Portugal atravez dos gajos”. Acho que o homem, manifestamente, dá para mais e melhor. Se bem que para quem escreve estes textos avulsos sobre o que os outros escrevem, como eu, se calhar é um bocado petulante este reparo. Mas enfim, quem não nos quer desiludir não nos habitua mal.

Este livro reune as crónicas para o extinto suplemento DNA do Diário de Noticias e versa sobre o exacto tema que lhe dá o titulo, a gastronomia portuguesa.

Há crónicas para todos os gostos (e neste caso paladares), e, de forma não sistematizada, nesta obra vamos fazer uma viagem ao centro da gula. Sim, que se retira desta compilação de crónicas uma evidência, o Sr. Esteves Cardoso é o que se chama cá na terra um “lambão”.

De qualquer forma, faz aquilo que considero absolutamente primordial que é a defesa da cozinha portuguesa tradicional, aliás, numa das suas mais bem conseguidas crónicas, contrapõe o que é a nossa cozinha de raizes marcadamente lusitanas à dita cozinha mediterranica, da qual nos afasta com argumentos muito espirituosos. Nota-se como em tudo o que o MEC escreve a sua matriz conservadora, e a determinada passo, saudavelmente reaccionária, quando se insurge contra as novas tendências de “fusão” e as experiências gastronómicas de uma ou de outra forma põe em causa o purismo da autêntica gastronomia nacional.

Leva-nos também por muitos dos templos de bem comer em Portugal, com destaque evidente para o Gambrinus e o Porto de Santa Maria em Lisboa e o incontornável Aleixo no Porto, onde, passe a imodéstia, aqui este vosso amigo é recebido como se estivesse em casa.

Faz a defesa das matéria primas originais e da sua origem, e defende que o dificil é manter e repetir bem feito, aquilo que está apurado por várias gerações de cozinheiros e cozinheiras. É um livro que vale a pena ter, para ler e reler e refletir em muitas opiniões, que ditas de uma forma ligeira e sempre bem disposta nos traçam o mapa de um País onde de facto “não se come mal”.

Para adjectivar o livro própriamente dito, apenas uma palavra: “delicioso”.



PARA A SEMANA:

NA MESINHA DE CABECEIRA:

Continuam:

EU, ANIMAL de Indra Sinha (Difel)

NO CORAÇÃO DE ÁFRICA de William Boyd (Casa das Letras)

A MULHER CERTA de Sándor Márai (D. Quixote)

VISÃO GLOBAL – Conversas para entender o Mundo - de José Cutileiro e Ricardo Alexandre (Prime Books)

Entradas: Semana de Natal, aguardamos o “sapatinho” para novidades.

Até para a semana com votos de BOAS FESTAS!!!

Comentários

Dalaila disse…
As tuas crónicas são deliciosas, apetece comer, e ler e reler, e mais com textos assim, só posso dizer que em POrtugal Há quem não escreva mal.

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