Aos meus Amores……que são o meu futuro todos os dias.



O futuro já foi… o peito da minha mãe, o olhar do meu pai, a minha irmã pequenina, o bibe da escola, a mochila, o saco de pano bordado para levar o pão com marmelada para a escola, a lousa e os livros, o recreio da escola, as férias de verão, o andar com os amigos, uma escola, outra escola, ainda outra escola, as prendas de Natal, a televisão a cores,a aparelhagem de musica, os discos de vinil, não ter horas para chegar a casa dos pais, estudar fora. Depois, sem nos darmos conta, o futuro estava nos olhos daquela menina, e depois os olhos de outra. O primeiro filho, todos os filhos. Durante essa época, passou a ser a casa, o trabalho, as férias do trabalho, outra casa, outro trabalho, as férias desse trabalho. A escola dos putos. De repente deixou de haver futuro, porque só havia presente. E muita gente a passar, a passar de futuro a passado sem nos darmos conta, até que voltou a haver futuro, onde já nem passado havia.

E o futuro volta a ser um peito de mãe, um colo de pai, uma irmã pequenina, uma promessa de vida realizada, e Amor. Não há futuro sem Amor.

E nestas linhas, que a cada palavra são passado e a cada imagem presente, vejo o meu futuro, não como antigamente mas como memória do que há-de vir. O passado foi o nosso futuro possivel, antigamente. O futuro é, como deve ser, como antigamente, o amanhã de Esperança, a Felicidade dos Amigos, um abraço sentido, um reencontro, todas as partidas, o chegar sem ter partido, o estar com os nossos.

Terá dor, e perda e morte, porque o futuro é assim, não sente, só nós o sentimos, enquanto passa numa brisa constante que ora é calma e morna ora se torna em tormenta que gela.

Ou haverá muitos futuros? Um para cada encruzilhada da vida? Talvez, do futuro só sei que o fazemos um bocadinho todos os dias, e que os atalhos que a vida contém, só os fazemos uma única vez. Não sei o que é o futuro, se a nossa memória vivida, se o passado dos dias que vem. Ou ainda só haverá um futuro, inscrito no peito e na alma, sem hipótese de fuga, a obrigar o nosso caminho e traçá-lo nas nossas costas? Será esse futuro-Fado verdade? Não sei, também.

E hoje? Que há? Há passado, tal como antigamente. E futuro, também como antigamente. E o futuro continua a passar, cada vez mais passado, cada vez mais presente. E o futuro volta ao passado, volta aos olhos desta menina e ao sorriso de outra, pequenina, de tão grande que é.

E o futuro e o antigamente vivem dentro de nós. A memória do que fomos e somos e a centelha do que viermos a ser. Um bocadinho todos os dias. O futuro é a Vida, que nos vai fazendo e desfazendo, até um dia sermos finalmente nós.

Para o autor do desafio Miguel Carvalho, deixo-o com a letra de um Fado, encantadoramente “kitsch”,cantado pelo enorme João Correia, rencontrado numa das curvas da Viagem, em dueto com o Fernando João, num dos meus futuros passados:

É tão bom ser pequenino / ter Pai, ter Mãe ter Avós / ter esperança no Destino / e ter quem goste de nós…

Comentários

Petra Maré disse…
Ora, muito belo e, muito bem.
Gostei do texto e do blog.
E somos quase, quase, vizinhos...

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